sexta-feira, março 30, 2007

TELEVISÃO ÃO ÃO ÃO III

ARGUMENTO BRANQUINHO

O senhor deputado Branquinho acusou o governo, na Assembleia da República, de governamentalizar a RTP com o brilhantinoso argumento de que em determinado período a RTP deu o dobro de notícias sobre o governo que a SIC e a TVI juntas. Com tal contagem infalível mostrou a evidente subserviência da RTP e, implicitamente, a conduta imaculada das TVs privadas. Claro que exactamente com o mesmo argumento podia o governo levantar a quetão da subserviência das privadas. E podia mais, podia perguntar ao senhor deputado que, se a RTP estivesse obrigada a dar o mesmo tempo de notícias sobre o governo que as privadas, caso estas fizessem um boicote às notícias governamentais, os portugueses ficavam sem saber se ainda existia o governo de Portugal. Nessa altura, quando as privadas dessem zero notícias do governo, o senhor Branquinho aceitaria que a RTP desse o dobro de zero notícias, e os portugueses ficavam doutorados em acidentes, futebolismo, telenovelas, publicidade, big brother e pimbalhices várias.
E o que choca mais no senhor Branquinho(P.Pereira e outros) é que ele não se preocupa com a deseducação provocada por horas e horas de lixo televisivo que é atirado à cabeça dos portugueses todos os dias. Ele não se preocupa que as escolas e professores se matem a tentar elevar a educação da juventude e as televisões, especialmente as privadas, se danem a conspurcar e enlamear brutalmente, essa mesma juventude, sobrepondo à educação escolar do esforço para aprender e saber a idéia de que tudo está à mão dum botão, de que a felicidade se obtem a ver até ao fim a telenovela, de que os heróis actuais são os presos, os drogados, os gangrilheiros, os actores de telenovela, etc., etc., porque as TVs entendem que são estes os carácteres e caras mais vendáveis para crónicas e entrevistas. Do argumento do senhor Branquinho fica evidente que quando(se um dia)tutelar a televisão a sua única preocupação será a de manter o olho na subserviência da RTP.
Pensava-se que todo o ser humano, mesmo burro, tinha massa cinzenta mas o senhor Branquinho parece que a tem branquinha e pior que isso quer branquear a nossa.

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GORJÕES, DIA DE PÁSCOA DE 1983




Gente gorjonense e movimento no local do ALTO principal centralidade e vida social do sítio dos GORJÕES.

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sexta-feira, março 23, 2007

FUTEBOLISMO

ESCOLA, ESPECTÁCULO, MERCANTILISMO, CIRCO?

O desporto em si é um belo ideal, praticado por si é um bom exercício físico, executado com perfeição de movimentos é uma estética, dominado com superior destreza é um gozo, usado para o bem de corpo e mente é uma lição, interpretado como uma disputa leal entre rivais pelo louro da victória é a paz, servido pela inteligência para atingir beleza pode ser uma arte, contemplado como arte em movimento é uma festa. Provávelmente só os gregos estiveram próximos de reunir todas estas qualidades como resultado da interpretação das suas concepções filosóficas. Neste caso, os jogos, eram uma verdadeira escola de formação dirigida aos valores nobres do heroísmo pacífico ao serviço da cidade.
Os romanos que culturalmente copiaram tudo dos gregos, no que diz respeito aos jogos, abastardaram completamente o carácter da concepção grega de jogo como p(ro)arte da formação integral do bom cidadão. Deste modo recrearam e refinaram um costume bárbaro antigo das lutas guerreiras cruéis de algum dos povos primitivos que deram origem a Roma. Criado e estabilizado o imenso império, a disputa pelo grandioso poder de tanta riqueza entre as grandes famílias, levou a uma permanente guerra civil em que cada facção no poder usava e abusava do mais rudimentar populismo para obter o apoio da populaça. O punhal de Brutus quiz repôr a antiga nobreza de princípios e da lei tal como o seu antepassado o fizera para implantar a républica dos patrícios dirigida pelos cônsules. Afinal acabou por acelerar a implantação definitiva dum poder divinizado sob a forma do césarismo. Endeusado este poder, sem ideais nobres por que lutar, dedicou-se à devassidão de palácio, à subversão dos antigos costumes, à degradação extrema da moral pública, à utilização de jogos de matança como arma político-religiosa, ao espectáculo de carnificina para manter a plebe entretida, à delapidação da riqueza usurpada aos povos submetidos. E o império definhou entre césares loucos e povo pedindo pão e circo.
Como herdeiros directos destas culturas clássicas, os nossos jogos oscilam entre o ideal grego e o espectáculo romano. Organizamos o nosso desporto segundo os argumentos nobres da formação dos jovens para serem atletas e homens exemplares mas entregamos a sua organização a instituiçoes autónomas que fácilmente adoptam e enveredam pelo puro césarismo desportivo.
Sobretudo quando o jogo se populariza, arrasta apaixonadamente multidões e envolve um manancial de avultadas riquezas, torna-se altamente apetecível a superintendência deste desporto, ao poder político para efeitos de manipulação política usando-o como escape social, aos pequenos terratenentes das organizações desportivas como os primeiros na fila para a corrida à maior fatia possível das riquezas provenientes. Daí a promiscuidade de círculos que se movem com intimidade entre a política e o desporto de "massa", sob a conivência do Estado.
O futebol desenvolveu-se acompanhando, intimamente interligado, com a face aparente da massificação democrática da liberdade. Os enormes estádios cheios de gente gritando, aplaudindo, vaiando, gesticulando acordos ou desacordos, travestindo-se de roupas, adereços e pinturas de sua criação e gosto, despejando raivas da vida em plena multidão ao ar livre preenche a necessidade libertária de sua natureza. Naquela situação o homem maltratado pela sociedade solta-se dos constrangimentos à sua liberdade natural impostos pelas leis, costumes, moral, trabalho duro penoso e obrigatório contra-vontade e sente em si uma importância que lhe é negada no dia a dia. Os Estados Maiores da organização política e desportiva, conhecendo e tendo em conta a função importante do jogo como aparência de liberdade, promovem-no e orientam-no nesse sentido. Até o termo desporto-rei, recria subconscientemente, a ideia de uma mensagem de devolução do reinado ao povo dos adeptos enquanto multidão observando e julgando o jogo que decorre a seus pés. Deste modo, de evolução em evolução, de amadorismo a profissionalismo, o futebol sempre orientado e submetido aos conceitos de jogo de proveitos políticos e mercantis, chegou-se à actual modernidade do futebolismo.
O futebolismo atingiu a sua expressão acabada com a transformação dos clubes, da Liga, agentes de jogadores, brevemente árbitros, etc., em entidades empresariais. É por ventura o objectivo duma empresa promover o desporto como escola de valores ou administrá-lo como aplicação financeira no fito de uma escalada de valores de activo? E a valorização do activo exige victórias a todo o custo e a criação de ídolos para efeitos de remessas de vendas de subprodutos. O poder económico de cada empresa futebolística estabelece hierarquias entre elas e as mais poderosas estabelecem as hierarquias das organizações dirigentes a todos os níveis, dado que os mecanismos de escolha são previstos exactamente para a produção e reprodução dessas relações hierárquicas.
O futebolismo vê-se nas conversas telefónicas que originaram o apito dourado e viu-se há dias, na sua vertente violenta, nas declarações do guarda redes belga. Mas os sinais são muito antigos; no manobrismo inglês contra a nossa selecção para ser campeão mundial nos anos 60, no uso de droga cujo paradigma é o senhor Maradona a quem deveriam ser retirados, por batotice, todos os títulos tal como se faz nos jogos olímpicos, no senhor Couto que cuspia na cara do adversário e depois atirava-se ao chão simulando ter sido agredido, nos senhores jornalistas e comentadores que desculpavam tal comportamento dizendo que o jogador estava fazendo o seu papel e culpado era o árbitro que não via, nas declarações do senhor Pacheco que questionado sobre a táctica a adoptar dizia que a equipa ia jogar de mangas arregaçadas(pugilismo) pitons altos(pisadelas) e caneleiras altas(caneladas), e foi campeão nacional com tal estratégia sob a complacência evidente do apitador. E tudo isto é pensado e montado como estratégia para ser usada no decurso da refrega tal como o fizeram os acima citados mas tambem como fizeram o pincel sujo italiano ao fazer expulsar o artista Zidane no último campeonato do mundo, e como agora queria fazer o guarda redes belga que, para salvação da contenda, não se conteve e soltou a língua sobre a táctica pré-definida.
Parece que já há gente a perceber que o futebolismo pode matar completamente o futebol e o empresarialismo(Sadismo) puro e duro, o jogo. Platini, novo presidente da UEFA, está nessa linha ao admitir que: «não queremos pessoas no futebol só com objectivos mercantilistas». Para a outra face do jogo olha o comentador Luis Freitas Lobo: «depois de sair da bota mágica de Quaresma, o instrumento de arte ou ciência voa em direcção ao fundo da baliza»
Entre arte e futebolismo o que interessa é que a magia do jogo não esteja apenas na bota mas sobretudo brote limpa do pensamento inteligente.

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quarta-feira, março 21, 2007

ALLGARVE

MARKETING E PROVOCAÇÃO

Antigamente a publicidade puxava pela imaginação para nos provocar pelo insólito, pelo absurdo, pela junção duma musiquinha e letra de leitura fácil e imediata, pelo contraste exagerado com algo do senso comum, por uma imagem ou representação informal, contra corrente, etc. Esse tipo de publicidade era simples e inofensivo, retinha-se na memória pelo contraste com a normalidade corrente, continha no seu modo um sentido anedótico que nos predispunha à sua retenção pela graça e riso que nos proporcionava. Fazia-nos cócegas e não apelos subtis às fantasias eróticas, eram divertidos e colocavam-se sempre dentro da moral e da lei vigente.
Com a revolução dos costumes e da moral beata a partir do Maio francês e que entre nós explodiu com a liberdade de Abril, também a publicidade se revolucionou e posicionou no sentido de derrubar todos os antigos tabus moralistas. Usou, abusou e abusa da imagem do corpo e beleza carnal sinuosa feminina, insinuando que o produto contém aquele apetitoso corpo ou leva à obtenção dum corpo assim. Também o uso e abuso dessa imagem deixou de impressionar, tornou-se rotineira e para crianças face à proliferação do erótico-pornografico em suportes cada vez mais à mão.
Então a publicidade, utilizando igualmente a imagem do corpo feminino desnudado, usa-o num quadro encenando uma situação dúbia perante a exigência da lei face à exposição pública. Veja-se o que se passa com as recentes fotografias de campanhas publicitáris de criadores de moda mandadas retirar do mercado e o mesmo já acontecera com a Benetton à anos. O publicitário precisa, para seu sucesso e proveito, impingir a mensagem no subconsciente da cabeça do consumidor e para isso inventa sucessivamente novos métodos. Tem de inovar porque nos modelos muito usados a sua mensagem é descodificada aos primeiros visionamentos e, tal como uma anedota que nos contam, deitada fora da memória mais ou menos rápidamente. Esta situação acaba por dar-se quando se estabelece uma relação apenas entre a imagem publicitária e o consumidor.
Hoje em dia o publicitário joga com uma mensagem encenada de modo a enquadrar-se fora da lei para obrigar à discussão da ética e moral pública e obrigar à intervenção do poder. Chegado aqui o publicitário já conseguiu o seu objectivo; a sua imagem-mensagem está à discussão pública como se fora qualquer medida extraordinária tomada pelo governo. A argumentação e contra argumentação entre o poder e o publicitário salta para o público, a discussão prolongada tranforma a mensagem num prego enfiado na cabeça à martelada.
O certo é que a globalização do mercado transforma tudo num produto comercial vendável por um eficiente marketing. Se desde sempre na venda e compra houve poucos escrúpulos com valores no novo marketing vale tudo. Deste modo já se faz publicidade na bandeira nacional, faz-se publicidade ao som do hino nacional, as casas são "villas" e "home", O Algarve é Allgarve, e Portugal é uma "marca".
Dá-me pena que sejam os próprios governantes a subverter os nomes e símbolos que representam a unidade do país como nação.

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domingo, março 18, 2007

EQUIPA DE FUTEBOL DO NEXENSE ANOS 50


EQUIPA DO NEXENSE 1ª METADE DOS ANOS 50 EQUIPADA À VASCO DA GAMA

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sexta-feira, março 16, 2007

TELEVISÃO ÃO ÃO ÃO II

ABRUPTAMENTE

O senhor Pacheco Pereira, na sua demanda actual contra a RTP, volta de novo no Abrupto(12 pp), com um exemplo de como a televisão pública manipula para servir o governo. Diz que a RTP abriu o noticiário com o caso da «menina raptada» enquanto a SIC abriu com a notícia do DN sobre as «admissões do governo» um caso incómodo para o governo.
Prova isso que a RTP manipula a favor do governo? Provavelmente. Serve o dono, e nessa medida de servir o poder serve-se a si, serve a manutenção do seu elevado poder próprio, serve a garantia da sua continuidade instalada, serve os grandes e pequenos interesses de todos os que estrebucharam para se alcandorar a uma migalha de poder. Não é o próprio Estato que se organiza a si e à sociedade para sua preservação e manutenção mesmo para quando o poder muda de mãos? Que são as leis, todas no seu conjunto, senão um código de mandamentos que estabelecem as relaões hierárquicas de produção, políticas, culturais, morais, estéticas, sociais, costumes, etc., de modo a preservar a coesão e continuidade da sociedade? Todo o ser vivo, racional ou instintivamente, reage a tudo que atente contra a sua existência, ora as instituiçõs, as comunidades, os países, como seres vivos organizados reagem de igual modo. A RTP não foje à regra.
Mas o exemplo citado prova sobretudo, e é aqui que este tipo de exercício à PP é manipulador tanto como a RTP que acusa, que a SIC também tem dono. Prova afinal que a SIC é privada mas não se priva de fazer política, e fá-lo em oposição ao governo. E porquê? Exactamente porque tem dono e rosto bem conhecido com interesses políticos idênticos aos do senhor Pereira e, ainda pior, tem interesses comerciais avultados com a subalternização ou desaparecimento da RTP.
Muito pior ainda, os exemplos como esse e outros citados em defesa da televisão privada, só prova que quando o PSD fôr governo em vez de uma tem duas televisões predispostas a propagandeá-lo; a RTP por imposição hierárquica e a SIC por camaradismo político e interesse financeiro. E neste caso o grau de liberdade de imprensa e, por conseguinte, das liberdades, fica diminuida.
Senhor Pacheco, através da sua bagagem academista, não queira enganar-nos, impregnando o pensamento lógico com retórica redutora e retorcida, defendendo o contrário do que a evidência prática já fez regra. O que, depois do insulto verbal a António Campos por este denunciar a existência de vacas loucas, e depois do insulto intelectual aos não apoiantes de Bush(Durão) na guerra do Iraque, seria o terceiro insulto à inteligência dos portugueses.

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segunda-feira, março 12, 2007

TELEVISÃO ÃO ÃO ÃO

RTP, 50 ANOS

Durante anos a fio Mário Castrim, dia a dia, programa a programa, assinalou, desmascarou e desmontou a total subserviência política e cultural da RTP perante a ditadura. Ensinou-nos não só a ver mas sobretudo como ver televisão, como olhar o modelo, a encenação, o enquadramento, a omissão, a forma, o conteúdo da notícia, a sua mensagem sempre, directa ou subrepticiamente carregada de tendencioso efeito político, moral e cultural conveniente ao poder. Tudo isso, os mais velhos aprenderam, conheceram e sabem bem como se cozinha e não é preciso os novos papas comentadores nos virem agora lembrar a velha subserviência da cinquentenária senhora.
E quem, nesse tempo ligado à comunicação, não foi subserviente? Quem não se sujeitou à censura? E quem não foi subserviente depois ou o não é hoje?
Falar da subserviência do tempo da ditadura para apontar a subserviência como uma fatalidade da RTP é mistificar a condição inevitável de subordinação hierárquica da instituição. O carácter subserviente ou prepotente duma instituição influente revela tão sómente o desígnio fatal do poder. É da natureza e necessidade do poder exercer e fazer cumprir esse poder, não podendo agir por via violenta, usará meios de sedução pavloviana para condicionar atitudes, consciências, auto-propagandear-se, etc., e a televisão é o meio ideal, de efeito imediato e fácil manipulação, que tem à mão e não o desperdiça. Por isso a RTP serve sempre quem está no poder e é sempre criticada por quem está na oposição no momento.
Vasco Pulido Valente, Ex-Secretário de Estado, Ex-Deputado, diz(Público de 9 pp) :«Mas neste meio século reflectiu sempre servilmente o pior país. Não deu o mais ligeiro contributo para a liberdade e educação de Portugal».
E eu pergunto-lhe: e a televisão privada deu?
Eduardo Cintra Torres, Ex-colaborador para a definiçao do modelo da RTP2, diz(Público de 10 pp) : «Em 50 anos, a RTP teve uma informação globalmente subserviente ; uma produção cultural erudita diminuta e uma produção popular em geral pimba»
E eu pergunto- lhe: e a produção das privadas não é pimba é o quê?
Pacheco Pereira, influente Ex-Deputado, diz(Público de 10 pp) : «A concepção de fundo é clara e atravessou governos do PS e PSD: entretenimento competitivo com as privadas, futebol, concursos e telenovelas, para manter as audiências para o que verdadeiramente interessa - a manutenção de uma informação(no telejornal e nos programas de debate) controlada nos seus efeitos perturbadores).
E eu pergunto-lhe: e as privadas além das telenovelas, concursos, futebol e publicidade dão o quê?
Mas a pergunta crucial que deve fazer-se a estes senhores é a seguinte: a RTP é subserviente do governo e as privadas são subservientes dos anjinhos? A TV pública obedece ao poder livremente eleito por milhões e a TV privada apenas obedece ao patrão privado, muitas vezes escondido atrás dum qualquer testa de ferro. A TV pública servindo o governo ainda assim pode estar a ajudar o país se este fôr um bom governo enquanto a privada servirá sempre em primeiro lugar os interesses comerciais privados do patrão. A TV pública é escrutinada pela oposição, pelos comentadores, críticos, jornalistas, parlamento, cidadãos, também nas eleições legislativas, etc., e as privadas são vigiadas e controladas por quem? Já alguem viu os jornalistas do Expresso criticar pública e negativamente a SIC? E quando estes lançaram notícias desagradáveis ao BES e este ameaçou imediatamente cortar os acordos de publicidade, não se viu que tanto o jornal como a impoluta televisão meteu a viola no saco? E não se viu mui recentemente a independência do jornal Público perante a opa da Sonaecom sobre a PT? E qual foi a televisão que se atreveu a dizer, no auge do record de audiências, que se fosse preciso vendia um Presicente da República tal qual um sabonete? E qual correu com o inefável parecereiro Marcelo R. de Sousa quando este se fez inconveniente? E a mandado de quem?
Quanto a independência estamos perfeitamente empatados com a particularidade de que na privada nada poder ser alterado contra os interesses do dono. Essa é a terrível particularidade da particular.
Quanto à programação lembrar-se-ão ainda estes senhores quem introduziu, protegeu, alimentou, vendeu em doses maciças ao público def...rxyz a pimbalhice mais rasca da música, dança, concursos, erotismo de playboy e outros, telenovelas em série, o futebolismo mais primário, concursos deprimentes, telejornais de desgraças, acidentes, sangue, lágrimas, encenação de anedotas boçais, emissões fora da lei, cortes em filmes, programas patrocinados, publicidade visível e encapotada ininterrupta, etc., etc.? Acaso já não se lembram do Rangel, senhor televisão todo poderoso, em debates académicos defender a pimbalhice porque era isso que o público gostava? Depois o Moniz, senhor televisão todo poderoso aprendiz do Rangel, fazer ainda pior que o mestre e dizer que a programação abaixo de cão que emitia era exigência do público? Só se esqueceram de dizer quem tinha educado o público em tão elevado bom gosto que só queria, pedia, exigia a porcaria que o sabão das lavagens ao cérebro tinha amontoado. Infelizmente a RTP, endividada e sem receitas, apertada pelas dívidas e pelos adeptos da privatização, correu atrás das audiências e apimbalhou-se totalmente pela mão do senhor Arons que teve a lamentável idéia de ir buscar à pressa e peso de ouro o tal Rangel inventor e dono da pimbalhice pública. Começa agora a libertar-se da guterrista pimbalhota hard core para uma mais soft, de conteúdos polémicos duvidosos embrulhados vistosamente.
Saberão dizer-me estes senhores comentadores porquê as televisões privadas, e outros importantes meios de informação, vão sempre parar às mãos de grandes senhores já com grandes interesses em muitos outros negócios? Será para sevir o público ou criar um público condicionado e dirigido para os seus interesses privados escondidos?
Uma RTP privada para o senhor Sonaecom? Para o senhor Olivedesportos? Para o senhor Bes?
Evidentemente, as mãos privadas, propiciam discreta e privadamente, privados ávontades para todos os privados independentes se baterem pela maior independência do seu privado poder de compra.

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sexta-feira, março 09, 2007

NEXE, ESTADO DA CULTURA I

NEXISMOS

A freguesia de Santa Bárbara de Nexe ocupa uma área territorial com cerca de 4o Kms2, 20% da área do concelho de Faro, e é constituida por cerca de duas dezenas de sítios com aglomerados populacionais muito dispersos. Podemos imaginar um rectangulo de 10x4 kms encravado entre a proximidade da campina de Faro a sul e a proximidade da serra do Caldeirão a norte, deslizando pelas duas encostas do cerro nexe por terras chamadas do barrocal algarvio. O cerro nexe, do alto dos seus quase 400ms de altitude olha o mar a sul e a serra a norte, cria alguma dificuldade de tranposição mas mantem a morfologia de barrocal com os mesmos costumes ligados à actividade do cultivo agricola, pastorícia e exploração dos frutos secos. Dum lado e outro do cerro nexe a actividade cultural é identica, centrada no culto religioso, e por isso nascem em cada lado uma ermida a partir de meados do Séc.xv.
Os vários sítios da freguesia foram crescendo sempre de forma dispersa(casa no local de terra de lavrar) mas criando alguma centralidade à volta de novas realidades que nasciam localmente como os artífices, a venda, os poços, as casas de baile de roda mandado, um cruzamento com estrada nova, casa grande de lavoura, etc. No Séc.xx a partir do fim da guerra 14-18 sobressaiem três sítios onde se centraliza quase toda a actividade cultural da freguesia. São eles a Igreja, centro administrativo e paroquial com actividades na construção e ofícios ligados à pedra, Bordeira que se centraliza na actividade da exploração e trabalhos em pedra, e Gorjões que a partir das actividades da pedra se especializa na actividade de contrução de estradas. Nestes locais que aglutinam, comercial e culturalmente, todos os sítios vizinhos à volta, com pequenas diferenças temporais, nascem Sociedades Recreativas que passam a ser o local priviligiado de toda a actividade cultural desses sítios. Mesmo durante a ditadura salazarenta que proibia toda a actividade além do estritamente recreativo, estas Sociedades desenvolveram alguma actividade cultural como; leitura de jornais, escuta de notícias de fora pela telefonia, organização de peças de teatro(récitas), passagem de filmes(cinemas ambulantes), palhaços e ilusionismo(circo ambulante). Mas sobretudo eram locais de discussão, de confito de ideias, de debate acerca dos problemas da comunidade local, da guerra e das ideologias subjacentes(39-45), do desenvolvimento, das novas máquinas que surgiam; o automóvel, o combóio, o avião, a bicicleta, a estrada de alcatrão, o cinema(discussão entre bonecos mortos e bonecos vivos, cinema e teatro), a Espanha(guerra civil), comemorações do 9 de Abril(batalha de La Lys), etc., etc. Discutia-se ouvindo-se atentamente uns aos outros com tolerância, questionavam-se com o rigor e razão prática do entendimento confrontando a existência face aos acontecimentos do mundo e locais. E também com elevado sentido moral e social de comunidade organizando peditórios e festas de beneficência em favor de famílias muito pobres com filhos doentes necessitados de tratamentos especiais ou adquirindo transporte de tracção animal próprio para funerais evitando o carrego a braço dos mortos. Naquele tempo a miséria e a fome não eram figura de retórica, viam-se a olho nú à porta do pão racionado, e o direito à saúde era o direito natural da cura pela morte.
Contudo, apesar das intenções e do esforço dos fundadores das associações recreativas, o Estado Novo truncou-lhes quaiquer veleidades de dedicação mais visível ao aspecto cultural, o qual para ser digno de tal tem de ter algum fundamento ideológico. Veja-se que em nenhuma das referidas Sociedades se organizou sequer uma pequena biblioteca com literatura permitida ou outra. Estas teriam sido o meio ideal de recolha e difusão da cultura popular, nomeadamente da poesia popular, tão abundante e hoje perdida.
O Algarve não é rico em figuras de cultura de nível nacional e por conseguinte também o não é o concelho logo, só por um acaso muito original o seria a nossa freguesia. Mesmo assim há alguma originalidade cultural na nossa freguesia como é o caso de Bordeira.

Continua. Proximamente tentarei expôr opinião sobre os três nexismos que teimam em subsistir.

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quinta-feira, março 08, 2007

GORJEIOS VI

PRIMAVERA

Regressado ontem à noite de alguns dias em Lisboa, hoje de manhâ com o magnífico solinho quente algarvio, ao sair de casa uma andorinha voava veloz ao longo da estrada rente ao alcatrão. Aqui no campo basta o vôo silencioso de seta de uma andorinha para fazer sentir a chegada da Primavera e nos acordar o olhar para as plantas e árvores cheias de novas promessas de flôres e frutos. As abelhas afinam e limpam a tromba sugadora e as mulheres preparam e limpam os tachos para as favas e ervilhas que rebentam no quintal. Apesar das maldades que o homem lhe prega, a Natureza vai equilibrando quimicamente os bens do céu e da terra que nos mantem vivos de modo tão simples, tão envolvente e tão à vista que quase não damos por isso. E na cidade muito menos que no campo.
Em Lisboa, para mais na zona histórica, só damos pela alteração do estado do tempo de duas maneiras: quando chove ou faz sol. Para o lisboeta o estado de chuva é o pior que lhe pode acontecer; andar a correr de guarda chuva, esperas nas paragens à chuva, cheias nos túneis e ruas, poças nos passeios, atrasos nos transportes, acidentes nas avenidas, circulares, saídas, com as correspondentes horas dentro do carro parado. Para o lisboeta a chuva só é boa sob a forma de chuveiro na hora do duche. A expressão exemplar desse sentimento dá-a o locutor de serviço de televisão ao interpretar a meteorologia que, seja qual fôr e estação fôr, esteja o país em seca terrível, estejam as albufeiras vazias, diz sempre quando o tempo é de chuva: "amanhã teremos mau tempo com muitas nuvens e chuvas fortes". Pelo contrário, mesmo que seja mais sol e calor sobre a seca, ele dirá sempre: "continuação de muito sol e bom tempo para amanhã".
Claro que o lisboeta passa o tempo fechado em casa e no escritório, rodeado de prédios e ruas, onde não há espaço para a Natureza para além da sua própria. E esta, por força de viver fechada sobre si alimenta uma consciência individualista, tornar-se-á egoísta ao ponto de desejar apenas o que é bom para o seu bem estar e comodidades pessoais. E como tem tudo à mão nas lojas, armazéns, praças, supermercados e centros comerciais, independentemente do tempo que faça, para ele o melhor é fazer sempre bom tempo, isto é; sol, porque a chuva só lhe atrapalha a vida.
O citadino, e por razão de sua grandeza o lisboeta, que já tem tudo à mão tambem gostaria de ter o tempo que gosta e lhe facilita a vida. A natureza do camponês quer sol na eira e chuva no nabal mas a natureza do citadino quer sol no trabalho e sol no passeio ao campo e praia.
Pela minha parte concedo-lhes o sol sempre na cidade tal como desejam, mas deixem continuar tal como ainda se dá, o ciclo natural de sol e chuva sobre o campo para poder contemplar a sagração florida da Primavera no seu tempo próprio e ir ver, quando queira e à vontade, a beleza que o homem pôs na cidade.

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