sexta-feira, novembro 30, 2007

M.SOARES & F.ALVES

Depositava fundadas esperânças no programa televisivo de Ferreira Alves com Mário Soares iniciado agora na RTP1, dado a reconhecida competência de ambos participantes. Foi, contudo, quase decepcionante e muito por culpa do modelo televisivo adoptado. O assunto da conversa anda aos saltinhos para cá e para lá ao ritmo dos saltinhos das deslocações de local para local. No final fica-nos na memória uma colagem de imagens soltas, pouco conexas, uma espécie de manta de retalhos sem consistência de visão de conjunto.

Penso que, dada a grande vivência política, social e cultural de MS, seria de todo muito mais interessante que cada programa se dedicasse a um assunto específico, explorasse um tipo definido de vivência e nesta explorasse todas as facetas interessantes vividas no seu interior. Este 1º capítulo centrou-se sobretudo na vivência de MS como residente-resistente político exilado em Paris, pois o programa deveria, mesmo com a leveza narrativa-televisiva de rua adoptada, focar-se nessa localização-situação evitando o brusco saltitar que provoca desfocagem no espectador. E material interessante para relatar, apenas deste seu passo de vida, deve ser mato na cabeça de MS, basta lembrar-lhe os factos e deixá-lo falar.

Outra fragilidade deste capítulo são a leveza dos assuntos tratados, com pouca ligação ao animal político que foi e é MS. Esperamos sempre desta figura que, como disse, prefere pensar e olhar o futuro sobretudo, e como tal sempre pertinente e controversa, nos fale da sua vida como uma luta permanente pela liberdade e democracia em Portugal. Ora, embora o facto da sua estadia em Paris fosse decorrente dessa luta política, quem o desconhece ficou na mesma. Ficamos com a sensação de que se está a falar de fait-divers. Muito pouco para as minhas expectativas.

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quinta-feira, novembro 29, 2007

CONTRATADOS DE ANGOLA


CÂNTICO DOS CONTRATADOS
A roça Rodrigues & Irmão ficava a 80 kms do Terreiro, Posto de Bolongongo, próximo da nascente do rio Dange numa zona de pequenos fazendeiros de café feitos a braço próprio. Os próprios fazendeiros viviam no centro da zanzala de contratados Bailundos numa casa tipo cubata melhorada de paredes caiadas. Era uma zona bastante inóspita onde a água tinha de ser filtrada e tratada a "alozone", mesmo assim do pelotão destacado, ao fim dos quinze dias previstos, metade do pessoal já tinha contraído paludismo.

Foi neste local que passei o Natal de 1962 e pude assistir à festa que os cerca de cem contratados bailundos da roça, homens mulheres e crianças, fizeram para comemorar o fim do contrato e o regresso às suas aldeias natais no Sul. Na cantina da roça fazia-se a multiplicação do vinho do barril com água, mesmo assim os contratados comeram e beberam da mistura o suficiente para aquecer alegrias corpos e cânticos.

Todos, homens, mulheres e crianças sairam para o terreiro, formaram grupo, e iniciaram um cântico-de-graças pelo regresso à aldeia e casa nativa, feito de vozes, tambores rudimentares, latas, tábuas, pedras, palmas e assobios. Entusiasmado, peguei no gravador mono "okicorder" que tinha comprado em Luanda um ano antes, e acompanhando o desfile cantante à volta da sanzala fui gravando a melodia de contentamento dos contratados.

O Adão, herdeiro desse gravador, usou-o para outras gravações suas quando ele próprio foi para a tropa, tinha conhecimento desta gravação. Agora, passados 45 anos, descobriu a respectiva fita e conseguiu recuperar todos os registos incuindo este feito no Natal de 62 na roça Rodrigues & Irmão em Angola.

É exactamente esse registo musical original, captado pelo gravador mono marca "okicorder", que se reproduz aqui inserido no video anexo, com imagens de Angola da altura.






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quarta-feira, novembro 28, 2007

A S GUERRAS DE JOAQUIM FURTADO VI


6º EPISÓDIO

Está à vista a estratégia utilizada por JF para a apresentação da nossa guerra colonial, projectada cinematográficamente segundo um ponto de vista jornalístico. Após agarrar o espectador com episódios do início do conflito com imagens fortes da guerra, com alguns depoimentos apenas sobre o acontecimento narrado, sem grandes preocupações de enquadramento histórico, tem vindo, em pequenas doses e através de depoimentos dos próprios actores intervenientes no teatro de guerra, apropositadamente no tempo certo a dar as explicações sociais, económicas e políticas que levaram à deflagraçao da guerra nas datas em que aconteceram.
Este 6º episódio tratou, do início ao fim, da explicação por depoimentos e por factos filmados, das sujeições de trabalho, comerciais, políticas e religiosas a que estavam submetidos as várias classes sociais que coabitavam nas "províncias ultramarinas" na altura do fim dos anos 50. E foi nestes anos, então com algumas independências africanas já concretizadas, que tudo se decidiu. Ainda esperaram, os lideres independentistas, pelas eleições de Humberto Delgado na esperança de um governo português com quem pudesse dialogar, contudo a enorme e flagrante falsificação dos resultados gorou toda a hipótese de qulquer futuro entendimento possível.
Os brancos locais já sentiam o estrangulamento do condicionalismo nas culturas da terra, na comercialização dos produtos, na actividade industrial, etc., e não estavam contentes. O aparelho administrativo continuava seguindo e aplicando as velhas receitas ditadas de Lisboa por interesses colonialistas. A Igreja seguia a doutrina religiosa do Cerejeira aplicada à doutrina política e educativa de Salazar. Os nativos estavam sujeitos a várias baixas condições de trabalho e sobrevivência, ocupavam o lugar mais baixo da sociedade, eram criados de servir e pura força de trabalho obrigatório explorado também comercialmente, sem direitos nem ptotecção física ou social.
Neste cadinho social explosivo, deram-se as primeiras revoltas dos indígenas ainda de forma desorganizada, como nos contam os depoimentos deste episódio. Os trabalhdores da casa Gouveia na Guiné, os Macondes em Moçambique, e os padres das Missões protestantes em Angola educam para a insubmissão. Estes movimentos de revolta desobediente são fortemente reprimidos por forças militares de ocupação e deste modo criaram-se os mártires e os exemplos de brutalidade colonialista, necessários aos lideres nacionalistas, para explorar e desenvolver o seu recrutamento para as futuras acções militares de guerrilha.
E passado pouco tempo os movimentos nacionalistas indígenas lançaram-se na sua guerra pela independência e pasmemo-nos, com tanto indício de revolta iminente a nossa pide e governo foram apanhados de surpresa quando a guerra rebentou selvaticamente.
Dos episódios já vistos podemos concluir que, pelo menos duas oportunidades de resolução pacífica da grande questão do ultramar foram torpediadas pelas forças políticas colonialistas interesseiras de Lisboa; a fraude eleitoral da eleição de Humberto Delgado pela qual os nacionalistas alimentaram esperanças, e a outra já relatada de que o presidente Kenedy prometeu ajuda e deu um prazo de dez anos a Salazar para preparar as independêncis. Como não há dus sem três também as esperanças na hipótese Marcelo Caetano não venceu a posição colonialista e tudo se foi inglóriamente.

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GORJÕES CULTURAL

TEATRO
No passado recente fim de semana, dias 24 e 25, o Grupo de Teatro "te.atrito" esteve ensaiando, no salão da antiga Sociedade Recreativa Gorjonense, uma peça de teatro de Jacques Prévert "O Retábulo das Maravilhas", uma das mais imaginativas e significativas deste autor. Para remate desta 1ª fase de ensaios a peça foi representada na totalidade perante um grupo de espectadores locais como teste geral e pré-visualização de estudo de pormenores de encenação pelo atento encenador, convidado especialmente pelo Grupo para dirigir esta representação.
Os ensaios de afinação vão continuar até à véspera da apresentação oficial da peça que se realiza dia 6 de Dezembro no Grande Auditório da Universidade do Algarve(Campus de Gambelas). Lá estaremos para ver o resultado definitivo e aqui deixar nota do que houver a dizer sobre esta peça de evidente actualidade e que tão boa impressão nos deixou neste pré-ensaio geral.

CINEMA
Hoje uma pequena e original equipa de cinema chefiada pela directora de realização Brooke McGowen esteve nos Gorjões, local do Estanco, para realizar um pequeno filme sobre a guerra. Segundo nos declarou a realizadora, trata-se de uma crítica mordaz pela via satírica sobre a violência da guerra e a nossa habituação às imagens violentas face à sua banalização mediática permanente e constante que, deste modo faz da guerra e da morte um espectáculo televisivo comercial, o qual, depois, já não distinguimos entre realidade e ficção.
Junto de uma ruinas abandonadas sem telhados e paredes a desmoronar-se, foi colocado uma ruina de carro de sucateiro e pedaços e membros de corpo humano de figurinos velhos fortemente pintados de sangue fingido, espalhados à volta encenando destroços de um bombardeamento. Este espectáculo macabro é utilizado comercialmente para visitas guiadas de turistas que vão visitar aquela guerra como se fossem a um parque zoológico armados de máquinas de fotos para recordar. A sordidez pornográfica da guerra explorada como local turístico de visita para consumo voyeuerista.
Esta é, grosso modo, o enredo encenado para a filmagem, a qual através da montagem final da curta-metragem se pretende desmontar criticamente. Se tudo correr bem a realizadora pretende concorrer a alguns festivais de curtas-metragens em vídeo de New York.

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terça-feira, novembro 27, 2007

TEMPOS

TEMPO I

Hoje fiz anos e começo a dar conta como começa a faltar tempo. O tempo não tem mudanças nem acelerador para dar mais ou menos velocidade como um automóvel. E muito menos marcha atrás. Vamos nele inseparávelmente ligados ao seu ritmo e velocidade invariável de tal forma invisível que nem damos conta de tal amarra. Exigimos ser livres, lutamos por liberdade e quando alcançamos viver com as liberdades do dia a dia julgamo-nos seres libertos de todo tipo de sujeição pessoal íntima. Sentimos e fazemos valer a força da nossa liberdade face ao outro, conseguimos reforçar o peso da nossa individualidade, obtemos um substâncial aumento do nosso amor próprio, impomos mais vezes um juizo próprio e até uma corrente de pensamento, tornamo-nos mais criativos. E o progresso material no mundo avança.
Um dia contamos os anos que já temos e damos conta que a moinha do tempo nos transportou sempe blindadamente circunscritos. Amarrados à terra e ao tempo pela nossa condição humana, chamamos liberdade às pequenas conceções que estas duas forças irreprimíveis nos concedem temporáriamente.
A verdadeira liberdade está no pó.

TEMPO II

As notícias nacionais de hoje informam que um avião da Força Aérea foi buscar o cadáver do soldado morto num acidente de viação no Afeganistão onde fazia uma comissão de serviço. Esta notícia choca-me o pensamento e divide-me em dois tempos ferozmente desiguais.
Na nossa guerra colonial era regulamentarmente proibida à Força Aérea transportar um morto mesmo em combate. O cabo Aguiar ficou sepultado em Quipedro num descampado junto ao acampamento à sombra do único imbondeiro ali existente. Um ano depois no Mucondo deu-se o caso do soldado raso Pires, que já moribundo, o oficial piloto recusou-se transportar o ferido porque o considerava morto. Só a enérgica intervenção do nosso médico Dr. Alves Pimenta obrigou o piloto a ceder.
Há 46 anos, muitos soldados tombados quer em combate quer em acidentes de armas ou viação ficaram espalhados pelo imenso mato angolano, nos locais de acampamento das tropas, porque simplesmente não era permitido aos mortos qualquer regresso. Credo religioso oficial à parte, um morto era só um morto, um não combatente, um não valor.
O tempo como relógio é imutável, contudo o tempo como liberdade circunscrita, está em permanente mudança de conteúdos.

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segunda-feira, novembro 26, 2007

O MEU LUGAR IX


E FOI ENCANTAMENTO

E foi encantamento o mato
de moitas, tojos, silvados,
carrascos, pedras, penedos
colorindo o lugar d'aparato
pobre, áspero, desgraçados
tons anunciando azedos
trabalhos de braços, prato
forte da gente faz-valados,
arranca-pedra a dedos,
faz-maroiços-altares, grato
sacrifício dos heróis suados
primitivos, que sem medos,
içaram do bravio ingrato
mato mansa terra de arados.

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sábado, novembro 24, 2007

NOTÍCIAS DO FUTEBOLISMO II

1. BRILHANTISMO
Logo após o apuramento da selecção todas as televisões reuniram à mesa as suas enciclopédias futebolísticas para discutir o acontecimento. O tom dominante dos afofados comentadores de rabo de fora, era a pobre exibição da equipa a somar a outras ainda piores durante os jogos de apuramento, o facto de só nos apurarmos à ultima hora com tanto craque mundial, a táctica montada, os jogadores utilizados e não utilizados, etc., até que um ex-jogador de nome Eurico, treinador creio, não sei ao certo, botou palavra e acusou grosso e forte a falta de brilhantismo, quer do jogo quer do apuramento da selecção.
Oh! craque de cadeirão, farol futebolístico a lançar jorros de luz de brilhantismo sobre meio campo do relvado, aquele ocupado pela nossa selecção, que na outra metade apenas heverá sombra e vultos obscuros. Com tal luz em meio campo provocará um encandeamento tal que cega o adversário que fica pasmado de admiração hipnotizante pelo brilho dos dribles, jogadas e golos dos nossos craques imparáveis.
Com tal seleccionador espantaríamos o mundo a ganhar jogos abrilhantados. O grave problema, depois, seria o enorme desemprego de comentaristas nos jornais e televisões. O que ia fazer tanto afofado à sombra do futebolismo,nomeadamente o afofadinho mor, aquele da Sic, com a sua ridícula maquineta de rabiscar traços e fazer bolinhas, enquanto bota fora insignificâncias como se estivera a ditar ciência, se todos os "índices de produtividade", eram sistemáticamente atingidos em cada jogo?
Tudo indica que Scolari já não tem mais paciência para aturar tantos, e tais sábios de saber tão palavroso.

2. GAROTO PROFISSIONAL
Parece haver novo caso Eusébio entre Benfica e Sporting, agora por um miúdo de 8 anos que é disputado pelos dois clubes. Em recentes programas os actores do caso Eusébio gabavam-se de ter escondido o craque durante algum tempo enquanto preparavam a respectiva papelada de inscrição. Esperemos que neste caso não haja rapto.
Como é possível que um garoto de 8 anos que devia estar ligado e atento à escola e à sua formação intelectual, já esteja exposto em leilão público? E como é possível que um garoto de 8 anos já possa ser inscrito como jogador de futebol num organismo oficial? A um garoto que deveria ser obrigatóriamente um estudante profissional, faz-se que ele seja, antes de mais e contra a escola obrigatória, um futebolista profissional inscrito e colocado no mercado mobiliário de valores.
Claro que os clubes já fazem contas aos milhões que podem ganhar e os pais já sonham com os milhões do filho daqui a poucos anos. Mas e se tudo não passar de um jeito precoce do miúdo que depois não tem qualquer desenvolvimento como imaginado pelos "olheiros"? Não há problema, vai ao psicólogo.

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terça-feira, novembro 20, 2007

O MEU LUGAR VIII


E TEU MEU LUGAR INSCREVES

Arrumado o sílex estilete aparo
de assinar pactos e sulcos leves,
demarcaram no lugar algueirão,
covil abrigo gruta mina, amparo
de feras, noite frio chuva neves
tempestades ventos raio trovão,
refúgio de repouso e amor avaro
exclusivo para filhos breves,
fortes para arrancar do chão
pedra grossa, mato, erva raro,
sol a sol sem tréguas ou greves
de braços caídos e pela sua mão
esculpem o mato em campo claro
verde, e teu meu lugar inscreves.

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domingo, novembro 18, 2007

NOTÍCIAS DO IIL

CURSO DO INSTITUTO INDUSTRIAL DE LISBOA
ELECTROTÉCNIA E MÁQUINAS 1963-1967


Caso inédito ou muito raro constitui o curso de Elecrotécnia e Máquinas 1963-1967 do antigo Instituto Industrial de Lisboa que se reúne ininterruptamente há 40 anos. Estudou no salazarismo, iniciou-se a trabalhar com o caetanismo, atravessou o prec e outras crises económicas e de trabalho, subsistiu aos conflitos ideológicos pessoais da democracia e continua resistindo ao tempo.

Foi nos pavilhões abarracados ou na sala dos pavões escutando as espantosas lições papíricas do "Preto", as lições sebentais do "Delta Xis", as lições de tecnologia museológica do "Tarzam", as lições dos sábios químicos do "Galvão", as lições de cálculo vectorial sem vectores ou de geometria descritiva sem linha de terra do "Nuno" que se cosia com outras linhas e amava vectores mais gostosos, ou escutando atentamente as imperdíveis sábias lições do ímpar "Chagas Gomes", nas aventuras com o chefe "Lucas" dos contínuos ou com o chefe da secretaria "Snr.Costa", etc., ou ainda as muito especiais e gostosas idas diárias obrigatórias à papelaria da Associação visitar as belas manas de magníficas vistas de todos lados, que nasceu esta camaradagem amiga inapagável.

A maior parte dos alunos vinham das Escolas Industriais de Lisboa mas uma parte importante era oriunda das escolas de província especialmente de Leiria e Faro. Estes alunos, filhos de famílias modestas, viviam em quartos esconsos multicamas sem ambiente e condições de estudo, alugados à volta da Estrela, era também nessa zona que procuravam o café mais adequado para estudar. Estudava-se em grupos distribuidos por cafés como o "Canas", o "Gigante", e a Esplanada do Jardim da Estrela do "Três Pelos" onde se juntavam os algarvios. Os da província eram alunos de médias altas e de elevada craveira pois entravam directamente dispensados do exame de admissão e em Lisboa mantinham o mesmo nível de inteligência ou melhor ainda por aplicação. Eram filhos de famílias remediadas e o estudar em Lisboa não era uma festa mas o meio de obter um ganha pão menos duramente que os pais.

As poucas escapadelas ao estudo, além de uma ou outra ida ao futebol, eram as idas ao cinema da área, o Paris e o Jardim-Cinema, o "Vergas" devido ás cadeiras de verga para os espectadores. Reunidos no café, muitas vezes, deixávamos os livros na mesa, íamos a uma sessão e voltávamos à mesma mesa e estudos, como se fôra uma espécie de intervalo necessário no esforço enorme de horas e horas a matar a cabeça.

Cada um tinha a sua mesa e estudava individualmente no seu canto mas perante uma dificuldade na matéria do dia havia reunião geral e a difuldade era ultrapassada com a discussão geral sobre o assunto, se não, combinávamos pôr a questão ao professor no dia seguinte. Habituávamo-nos ao bulício do café das box-musics com faixas de long-play a um escudo, e o estudo tornava-se mais alegre para além de ser altamente produtivo e menos desgastante face ao facto de podermos tirar dúvidas conjuntamente.

Deste modo, a vivência estudantil nesse tempo, era uma escola de sã camaradagem proporcionando uma boa formação de convivência social, alargamento e convergência de gostos de leituras e hábitos reputados. Pode dizer-se que os bancos comuns dos cafés, do cinema, do futebol e outros, tal como os bancos da escola do IIL foram fundamentais para a criação deste espírito de fraternidade que ainda hoje perdura e se renova de seis em seis meses há 40 anos sem falhas e que só a morte matará.


Estes da esquerda e direita abaixo são quatro exemplos da fraterna camaradagem do nosso curso. Desde o primeiro ano que fazem parte dos indefectíveis e na hora de organizar as comemorações dos 40 anos deitaram a mão à obra, esforçaram-se e conseguiram reunir mais de cinquenta colegas ao fim de tantos anos.
Merecem o nosso reconhecimento.


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quarta-feira, novembro 14, 2007

AS GUERRAS DE JOAQUIM FURTADO V


5º EPISÓDIO

Mais uma bela peça jornalística montada na perfeição para, duma maneira escorreita sem levantar ondas, tratar do racismo à portuguesa. Pelos depoimentos verbais recordados de forma coloquial pelos intervenientes dos dois lados se vai compreendendo como os portugueses não são capazes de encarar com rigor intelectual uma actitude, neste caso uma actitude com forma e conteúdo social verdadeiramente racista. Portugal nunca teve uma sociedade superiormente educada e elevada para ter qualquer veleidade de impôr comportamentos rígidos espartanos baseados em qualquer utopia social. Fomos para Angola como já tinhamos ido para o mar, à descoberta. Ou pior ainda, para cumprir castigos de condenações, tal como aconteceu a muitos dos fazendeiros que fizeram, à força de braço, da sua lavra uma pequena ou média roça de café, ao mesmo tempo que espalhavam mulatinhos pelo acampamento de contratados.
O branco do Puto, muitas vezes foi para o mato viver junto e do mesmo modo que os nativos, era intelectualmente tão emancipado quanto os pretos e tão racista quanto era cá nas sua aldeia entre componeses pobres e maltratados. Neste episódio está claro que o colono não fazia a mínima idéia do que ia enfrentar quanto mais ter idéias sobre racismo. Ele era colocado na colónia e só depois se apercebia que o branco tinha enormes vantagens legais sobre os pretos por que a lei lhe conferia direitos especiais pelo facto de ser branco. Exercia esse poder de superioridade que a lei lhe consignava também por obrigação social imposta pela elite colonial instalada e dominante. Metido na situação de uma superioridade oferecida aproveitava-se dela como bom exemplar de portuguesismo que era.
O racismo não era um conceito ou uma forma de pensar dos pobres colonos degredados para as colónias mas sim um pensamento base óptimo para estabelecer uma organização social totalmente dominante cuja cabeça estava no governo de Lisboa e que servia os seus apaniguados interesseiros do café, algodão e açucar angolanos e outras plantações altamente rentáveis com mão de obra escrava. Ainda hoje os impositores e beneficiários das leis racistas choram a perda de tal abundância ainda por cima quando já cheirava a petrolífero ouro negro.

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NOTÍCIAS DO PAU IX


Esta tarde fui à redacção do jornal do pau saber notícias do lugar acerca do Clube Recreativo e Cultural. Na passada sexta feira reunira a Assembleia Geral para aprovação de contas e para informações sobre o estado actual do projecto para a construção da sede e salão para as actividades do Clube Gorjonense. Fui informado da pequena comparência de sócios o que parece indicar algum desinteresse pela causa ao contrário da incansável direcção que luta para levar o projecto avante e valorizar o sítio.
Finalmente todos os projectos estão aprovados e em condições de solicitar orçamentos para execução dos diversos trabalhos. Tratando-se de uma obra de cariz inteiramente social para servir populações práticamente abandonadas no fundo do interior do concelho não se justifica, de forma alguma, que a CMF leve anos a aprovar um tal projecto. O que este pequeno sítio se propõe fazer, sendo uma necessidade do povo local, deveria ser da iniciativa da própria Câmara, não o sendo deveria a Câmara apandrinhar e ajudar por todos os meios a população a obter o mais rápido possível o seu objectivo. A cidade continua a olhar para o campo do mesmo modo que o citadino olha para o sem abrigo; uma casa de cartão e uma sopa dos pobre chega e sobra. O campo não pode ter a casa dos seus espectáculos e costumes tradicionais, mas a cidade pode ter um belo e grandioso teatro para uma pequena elite cultural que arrasta atrás uma vistosa passerele de socialite telenovelesca.
A estimativa dos projectistas leva os custos da obra para verbas muito para além das possibilidades do povo local. Vamos ver o que a CMF vai fazer para ajudar a pôr de pé este tão grande projecto para tão pequeno povo, tendo em conta que a vontade e união de esforços representa a força mais considerável.

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quinta-feira, novembro 08, 2007

O MEU LUGAR VII


SUBIRAM O CERRO DA MINA

Subiram leve o cerro da mina
donde avistaram a planura
de nateiros de pedra e tojo
manchados de erva danina
farta e verde de frescura
sinal de trazer no bojo
água farta que predestina
belas promessas de fartura
tirada a braço força arrojo
ossos suor sangue urina,
obra pouca pra sua bravura,
pensa tal gente, e dum estojo
lítico saca do sílex e ali assina
pacto de vida e morte sob jura.

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quarta-feira, novembro 07, 2007

AS GUERRAS DE JOAQUIM FURTADO IV


4º EPISÓDIO

Mantem JF a neutralidade da sua narrativa fílmica e discursiva por entre as tês trincheiras da guerra que se propôs mostrar e explicar aos portugueses. As imagens, os depoimentos, a narração do próprio JF para a ligação e compreensão dos acontecimentos continuam certinhos para uma visão e entendimento global amistoso e conciliador da guerra por ambos contendores. Compreende-se e aceita-se inteiramente tal opção.
Mas eu que estive lá e tomei parte na operação Viriato, tal como muitos outros, sei de acontecimentos que, passados estes anos, já podiam ser contados como o caso do lançamento agendado, preparado e pronto dos pára-quedistas sobre Nambuangongo e que depois de rejeitado e ameaçado pelo Com. do Bat. 96, foi desviado para Quipedro três dias depois da tomada de Nambuangongo, e quando o Esq. Cav. 149, enviado para ocupar Quipedro a 6o kms, já estava no rio Lué e não atingiu a povoação, a cerca de meia dúzia de Kms, porque a ponte sobre o rio estava destruida e a corrente não permitia a passagem a vao. Um guerrilheiro da UPA depõe, neste episódio, que com a tomada em força de Nambuangongo pelas nossas tropas os guerrilheiros se dispersaram e só voltaram a reunir-se mais tarde na zona de Quipedro, tornando assim, esta área a mais perigosa da região. E foi o Esq. 149 que ocupou durante 17 dias esta área com o balanço de dois mortos e váris feridos graves evacuados, enquanto os páras tomavam o avião e voltavam para Luanda ao 3º dia.
Outro feito que merecia referência foi a travessia do rio Dange pelo Esq. 149, por meio de uma jangada totalmente feita no local de paus cortados na mata, lianas, arame farpado, bidons velhos e tábuas de caixotes de munições, na qual passou toda a Unidade e viaturas pesadas carregadas sem o mais pequeno precalço, o que constituiu a mostra maior da capacidade de improviso e engenho do soldado português face à falta de meios adequados. Tudo isto no caminho da Pedra Verde onde se desenrolava a operação Esmeralda, afim de cortar a linha de fuga natural do inimigo.
Percebe-se que não haja espaço no episódio para factos laterais, mas talvez não fosse má idéia a feitura de um episódio que mostrasse os factos relevantes que foram contributo importante para a boa concretizaçao das missões militares e reveladoras da delirante capacidade de adaptação à guerra do soldado portugûes. E ainda melhor se percebe que JF não queira levantar o problema do relacionamento entre tropas do mato e tropas de cidade, entre tropas das picadas e tiros e tropas dos bares e copos. Estes conflitos internos podem omitir-se mas lá que os houve, houve.

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MARAFAÇÕES XXXII

ORÇAMENTO DE ESTADO

O tão propalado duelo, como lhe chamou a propaganda mediática, na verdade não passou de uns disparos de pólvora seca. Verdadeiramente, o duelo não passa de uma criação artificial do pessoal que trabalha para alimentar o circo mediático mediante a estratégia de criar expectativas que causem um clima de suspense. Quem acompanha a política desde há anos sabe de antemão que o Dr. Pedro Santana Lopes é um genético encenador de bluf em todos os jogos que participa. Como o astrólogo que promete a sorte grande aos outros para ganhar a sua vidinha à grande, assim faz PSL junto dos média, deixando no ar umas ambíguas frases soltas de tom algo misterioso, que convém e atrai toda a moscaria dos média para o seu jogo. Depois, na hora da verdade, quando é obrigado a mostrar o jogo são só duques.
Meteu-se em grande, claro, no negócio dos média e faliu, chateou o Cavaco até este o calar com a Secretaria da Cultura e foi um fartote com teatro, concertos de Chopin para violino e o CCB, colocado no Sporting foram seis meses de regabofe até ser corrido para evitar a banca rota do clube, depois na Figueira da Foz plantou umas palmeiras(MST dixit), deixou o município de pantanas financeiras enquanto comeu e gozou à grande, mais tarde na Câmara de Lisboa foi uma lástima ainda pior, e por fim como 1º ministro do país além de uma lástima foi uma desgraça e vergonha nacional.
Com este curriculum de incompetência, vejo com preocupação que os portugueses com a conivência e proveito dos média, continuam a dedicar atenção e criar alguma expectativa saudável a tamanho charlatão. Tal figura não sai da política porque esta é o único meio que tem para ganhar a vida à grande e manter o seu enorme ego atestado. Hoje em dia jamais algum grande empresário privado lhe entregaria a condução de qualquer alta responsabilidade e eu não o aceitaria sequer como fiel de armazém.

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terça-feira, novembro 06, 2007

NOTÍCIAS DO FUTEBOLISMO


1. A NAÇÃO DA BOLA

No "Público" de Sáb3Nov07 vale a pena a transcrição deste naco revelador da irreversível tendência do futebolismo em tornar-se capa para; 1) tapar(branquear) actividades de negócios pouco claros, 2) tapar as verdadeiras motivações de gente pouco escrupulosa que, após adquirida notoriedade através do futebolismo, pretende continuar e proteger negócios próprios por meios políticos. O paradigma Berlusconi continua.

Em LA CANCHA de Nuno Ribeiro diz-se a abrir: "Não é a primeira vez. De vez em quando, as gentes do futebol perdem a noção. Do lugar. Do tempo. Do espaço. E do motivo. É assim que teimam em transformar o pontapé em fenómeno de identidade. Já sabem. Em razão suprema da existência. Quando tal acontece aparece um novo conceito: a Nação da bola, ou a bola transformada em país. Uma pena"....
O artigo de NR referia-se a Espanha, contudo nesta precisa questão Portugal vai muito à frente e está brutalmente mais desenvolvido.


2. AS CLAQUES

Começaram as claques por ser muito bonito e divertidas nos estádios tornando-os coloridos, incentivadoras dos seu ídolos e animadoras das bancadas e peões dos adeptos. Como tal foram de imediato acarinhadas, apoiadas e até incorporadas na mística dos clubes, acabando por ter estatudo e regulamentos clubísticos. Paralelamente à infiltração até ao topo dos clubes de gente tal como descrito em 1. não só se deu o crescimento da "nação da bola" como a infiltração e crescimento das claques por gente à sua semelhança, transformando-as em grupos organizados com interesses próprios, também pouco claros, fora e ao redor da bola.
Em tal cadinho, este caldeamento explosivo, que rebentou a mortos e feridos por vários estádios europeus, um dia, mais tarde ou mais cedo rebentaria nas próprias mãos. Foi o que aconteceu na recente assembleia geral do Benfica.

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domingo, novembro 04, 2007

OBSERVAÇÕES


1. A GUERRA DE ÁFRICA

No Público de ontem este senhor na foto ao lado, na sua crítica da guerra em África de Joaquim Furtado que passa na RTP às 3ªs feiras, para lá do inicial elogio do enorme trabalho de investigação e realização, todo merecido e devido a JF, passa à crítica própriamente dita do relato fílmico, sua forma e correcta conformidade com os acontecimentos. E aqui constato que ECT coincide integralmente com as opiniões que tenho expressado neste espaço. A sua análise às imagens, ao discurso, aos depoimentos inseridos no tom e tempo certo dos acontecimentos relatados, coincidem taco a taco com os aqui impressos. Contudo topa-se a pouca atenção que dedica ao assunto pois fala em quatro episódios sobre os primeiros oito meses de guerra quando ainda só passaram três episódios e quatro meses de guerra. O próximo episódio será sobre a operação Viriato (tomada de Nambuangongo) e a minha Unidade, o Esq. Cav. 149 iniciou esta operação a 26 de Julho de 1961 às cinco horas da madrugada. As outras duas Unidades haviam iniciado alguns dias antes. Fora estas falhas reveladoras de desinteresse pelo assunto, no resto estamos inteiramente de acordo.

2. MORTE À SOCIEDADE CIVIL

Noutro artigo simultâneo ao de 1. ECT, a propósito do serviço público de TV, desanca no governo como de costume, na linha de hostilidades desencadeada pelo jornal Público a mando do Belmiro (ou do Belmirinho?) por causa da opa falhada da Sonae sobre a PT, o que o jornal se apressou a culpar o govermo(Sócrates). Daí em diante o tom de hostilidade vem em crescendo até ao estilo ostensivamente provocatório. Dado o feitio rijo, algo emotivo e empertigado do 1º ministro, fazem da provocação irritante uma cilada permanente onde esperam ele um dia caia com estrondo, tomando alguma actitude de revolta que possa ser cavalgada mediaticamente. Invocar Estaline, Jdanov, Harare e Pyongyang, a propósito da independência da televisão pública portuguesa só é possível de uma mente desvairada de sanha pessoal contra outrem, e objectivamente serve para ajudar o branqueamento da perseguição criminosa desses ditadores contra as liberdades dos cidadãos dos seus países.
Como conciliar a idéia que temos de tais personagens com um Estado Democrático de Direito com partidos, com devida e estruturada oposição, imprensa privada livre, direito de reunião e opinião, uma constituição que consagra as liberdades e garantias dos cidadãos, etc, etc.?
Sobretudo como entender tamanha comparação com ditadores ferozes quando a prova contrária está no próprio artigo de ECT publicado e no jornal Público diariamente? Como entender que a RTP e RTP1 tenham "cada vez menos conteúdos de serviço público" quando no seu artigo simultâneo acerca de 1. elogia abertamente o trabalho público feito e apresentado pela RTP sobre a nossa guerra de África? Tinha a televisão privada disponibilidade (disponibilidades) para empreender, não comercialmente, esta saga da guerra com a veracidade e imparcialidade dos factos tal como o faz a RTP?
ECT tal como J. Pacheco Pereira e muitos outros querem-nos vender a idéia que a TV pública não pode ser independente porque está sujeita à tutela do Estado, escamoteando a tutela sem qualquer escrutínio da TV privada, dando-a como imaculada ou omitindo deliberadamente os donos e interesses particulares desses patrões.

Para mais, uma televisão privada colocará sempre a tónica no oportunismo comercial, até mesmo contra a educação promovida pelas escolas. Uma televisão pública, mesmo tutelada, pode ser um bom instrumento se estiver ao serviço dum bom governo.

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sexta-feira, novembro 02, 2007

O MEU LUGAR VI


O MODELO FELIZ DOS PÁSSAROS

Do alto de nexe avistou o vale
encantado, saiu dos algueirões
encosta abaixo guiado pelo
cante da passarada em arraial
sonoro de belas interpretações
ao desafio, lindo d'ouvir e vê-lo
sobrevoando o manto matagal
tons verde escuro e impressões
rubras pinceladas sobre o pêlo
da terra, manchas de barrocal
virgem apelos a fecundações
de mãos pele suor sob o modelo
feliz dos pássaros; canto coral
liberdade ninhos filhos gerações.

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