quarta-feira, junho 27, 2018

GRANDE CAMINHADA, GORJÕES 22 06 2018

sexta-feira, junho 22, 2018

A "QUESTÃO BORDEIRENSE": UMA TESE (3)


E a "tradição" nasceu e cresceu sucessivamente com a fundação dos Grupos Charoleiros "Mocidade União" em 1918 e "União Bordeirense" fundada em 1919 pelo próprio Mestre José Ferreiro culminando em 1937 com a fundação da Sociedade Recreativa Bordeirense enquanto, em simultâneo, compunha as extraordinárias criações inigualáveis de corridinhos e da célebre, já referida, Marcha de Bordeira.
António Vitorino Pereira no seu estudo de investigação sociológica sobre o povo de Bordeira refere esse período assim:
"Pode-se dizer que entre os anos 20 e o final dos anos 40, Bordeira viveu a sua "idade de ouro" de construção da tradição e de afirmação identitária a que hoje se refere todo o imaginário colectivo" e continua, "É durante este período entre as duas guerras, nomeadamente com Mestre José Ferreiro, acordeonista e António Aleixo, um dos maiores poetas populares portugueses que aqui passava largas temporadas e ambos autores do Hino da Sociedade, que se vão escrever e gravar na memória dos mais velhos algumas das melhores recordações bordeirenses."
Ora esta "tradição" fundadora única e respeitada impôs-se por si própria dada a inovação e valor incontestável da música do Mestre que, para além de ser o pai fundador, era uma figura de elevadas qualidades humanas tão respeitado quer por bordeirenses quer por todos que alguma vez o conheceram ou conviveram com ele.
A sua elevada estatura como criatura e criador foi-lhe reconhecida por todos face ao valor único do seu trabalho e grande bondade e humildade pessoal sem necessidade de recorrer, nunca, a afirmações e atitudes de ostentação individualistas em oposição a outrem.
Portanto a "tradição" original fundadora nasceu de forma natural de seu valor intrínseco sem o mais leve indício de ter recorrido, alguma vez, ao discurso do auto-elogio por contraposição com os de fora.
A "Alma" do Mestre, transbordante de música e valores nobres de combatente na guerra em França, transbordou e fez-se semente de seara única que inundou sua terra natal e nela fecundou uma "tradição" de valores e costumes incomuns num pequeno povo de um lugar perdido no mundo.
É muito provável que tal semente, de germinação tão forte e rápida, tenha sido lançada no local ideal onde se mantinha latente alguma certa predesposição social comunitária no sentido de entreajuda e da auto-suficiência pois há rumores de afrontamentos antigos de natureza político-religiosos.
Talvez em algum tempo arcaico, acontecimentos já sem data, tenham deixado pegadas na "alma" dos primitivos locais que se transmitiram pelos costumes tão imperceptíveis como a naturalidade e profundidade de uma reminiscência mitológica de terra prometida.
Mas, acima de tudo e todos, a Alma do Mestre era tão grande que a pôde repartir pelo seu lugar natal, pelos lugares vizinhos pelo país e pelo mundo, e sempre bem-vinda, sob a forma de música tecida de Alma e feita corridinhos, hinos e marchas sem nunca perder, dar ou vender a sua própria Alma em troca de qualquer imaginada futura tradição e, muito menos, de pendor narcísico.
E tão forte e inamovível como se fora um sistema gravítico local que atrai todos bordeirenses à substancia da sua Alma fundadora e inspiradora.

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quarta-feira, junho 20, 2018

A "QUESTÃO BORDEIRENSE": UMA TESE (2)


Mas atentemo-nos às origens da tradição. Tanto a "Velha Guarda" grupo que engloba os primeiros conviventes discípulos e nobre herdeiros directos dos criadores da tradição como alguma "Nova Guarda" charoleira, que mais derivou para a "questão bordeirense" actual, são unânimes a confirmar que o verdadeiro pai fundador da "tradição" foi o Mestre José Ferreiro (Pai), brilhante acordeonista e compositor.
Foi o conjunto da sua Música de tal forma bem construída e tão bela e adequadamente ritmada que, no caso do corridinho, podemos afirmar que ele inventou o ritmo e harmonia modelo daquele tipo de composição.     
Mas, para os bordeirenses, o maior contributo e fundamento para o nascimento da sua contagiosa   "tradição" está na sua magnífica composição de batida forte e compassada de cunho militarista a qual na sua letra, da autoria de António Aleixo certamente influenciado pelo pensamento do recém-Soldado de guerra, há palavras de exortação que são pronunciadas e cantadas como se fossem gritadas a toque de clarins, trombetas e tambores gigantescos em marcha rumo à vitória ou morte, como os espartanos.
E que são e dizem assim:

Oh! Bordeirenses
Como é bonito,
Desta Bordeira,
O chão bendito!

Bordeira amada
Em que nascemos
Se fores atacada
Todos te defenderemos.

Esta composição designada Marcha de Bordeira, de acentuado cunho e sentido guerreiro na música e na letra, não nasceu assim porque o Poeta Aleixo ou Mestre José Ferreiro tivessem em mente qualquer suspeição de ataque militar, terrorista, ou de bandoleitros estrangeiros ou vizinhos numa tentativa de invasão da terra natal.
O Mestre compositor, havia pouco tempo ainda, tinha desembarcado vindo da 1º Grande Guerra de 1914-1918 para onde embarcara em 05/Julho/1917 e da qual desembarcara em Lisboa a 10/Julho/1919 depois de ser colocado, como ferreiro, nos Serviços Auto em 13/11/1917 e depois nos Serviços de Trem em 09/Março/1918 precisamente um mês antes de La Lys (ver imagem acima).
O Soldado José das Neves Vargues colocado desde cedo no Trem-Auto das tropas portuguesas do CEP, certamente, pouco conheceu das trincheiras mas seguramente viu-se envolvido quase permanentemente de desfiles e paradas com suas respectivas fanfarras de marchas e cantos militares que, como tocador de acordeão de raro instinto musical, lhe inundaram a "alma" e fizeram transbordar a sensibilidade artística criativa.
Nos serviços de retaguarda, de apoio à frente, também teve oportunidades várias de visitar as vilas e aldeias francesas dos arredores do acampamento e frequentar as Sociedades Recreativas locais para ouvir e apreciar grandes acordeonistas da melhor "Bal Musette" tão tipicamente francesa e famosa naquele tempo. 
Encantado, e de "alma" cheia de clarins e daquela bela música moderna que lá era dita de "acordéon" e não de "foles" ou "concertina" ganhando estatuto de música à séria, o Mestre mal chegado da guerra começou a aplicar a sua forte intuição musical compondo modernas e belas melodias para serem tocadas por ele próprio e cantadas pelos grupos de "janeiras" no 1º de Janeiro e dia de Reis.
E a "tradição" nasceu.

(continua)

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segunda-feira, junho 18, 2018

A "QUESTÃO BORDEIRENSE": UMA TESE (1)


Platão esteve continuamente encerrado num dilema acerca da "alma".
Na sua juventude adoptou, sem dúvidas, a posição dos órficos: o homem é composto de um corpo e uma alma. E como também não é um composto dos dois resta que o homem nada é ou, se é alguma coisa, não é mais que uma alma.
Ainda na juventude, face à velha ideia grega da prática saudável no uso do "ginásio", que defendia uma "mente sã em corpo são" propõe que "não se deve procurar a cura do corpo sem procurar a cura da alma". Platão hesita acerca do estatuto da alma colocada entre o sensível e o inteligível e questionado acerca da possibilidade; "E se a alma não fosse imortal?" e apenas a "harmonia do corpo" responde que não será apenas uma harmonia do corpo mas a causa que o faz viver e cuja função é pensar o que exige nela a presença do inteligível.
E a hesitação acerca do que é verdadeiramente a alma permanece sempre e não pode dizer-se que Platão ou alguém tenha alguma vez sabido exactamente o que é a alma.  
E se a alma fosse uma "tradição"?    
Em Bordeira, as novas gerações, com fundamento no valor e obra dos seus "antigos" desenvolveram "um modo de ser e estar" entre si e em comunidade que foi construindo um pensamento identitário e, por fim, tomado como uma tradição. Tradição que foi evoluíndo até ganhar contornos de carácter e valores individualistas que passaram a ser cantados nas suas manifestações culturais como únicas e personalizadas "filhas da tradição" e que chegaram à 2ª geração de tradicionalistas sob a forma actual de um bairrismo exagerado que aqui apelido de "questão bordeirense".
Como amigo militante da "Velha Guarda" bordeirense tenho acompanhado a evolução tendencial, no mesmo sentido sempre, e reparado que à medida que as novas gerações se afastam, no tempo e conhecimento, da origem da tradição mais se radicalizam e encerram nas suas muralhas e torres únicas incomparáveis, mas imaginárias.
Hoje em dia, em qualquer manifestação cultural popular em Bordeira, é quase uma ideia fixa a exaltação da mensagem forte, primeira e única de que "Bordeira é que é e nada mais". Ideia facilmente apreendida pelo ouvinte atento e, pelo tom e premissas que conduzem a tal afirmação, como uma proposta de total exclusão de qualquer outro ou outrém estranho ao território que confere o ser bordeirense  pois, tal afirmação, seu sentido e modo de uso significa, precisamente, que Bordeira é que é e nada mais (é).
Alguma tradição charoleira bordeirense descobriu o aplauso e adesão fácil do seu povo a tal ideia e deu o pontapé de saída na pessoa dos seus "começadores" improvisadores de quadras dedicadas à época de Ano Novo e dia de Reis e derivantes para a crítica social ou de costumes. O povo gosta de ter motivos de orgulho dos quais se sente parte e aplaude gostosamente porque se sente incluído no elogio proclamado e enfatizado. A repetição, ao modo de slogan, criou uma espécie de "refrão" cantado que se foi tornando um pensamento dominante quase automático e, necessariamente, altamente redutor de outros pensamentos mais elevados, mais sociais e universais.
Isto nota-se imediatamente na nova geração de poetas populares bordeirenses que, segundo tenho ouvido, não conseguem sair desse modelo limitado, limitando a sua poesia aos valores considerados únicos e locais que enaltecem a cada verso e cada quadra, quase esquecendo tudo o que é a tragicomédia humana da vida inclusive os imortais ódios e amores carnais da paixão e procriação em detrimento da total dedicação dos amores à "tradição".
O mesmo se passa em relação às gerações de juventude e juvenis locais a quem tal modelo é, na retórica prática dos costumes, transmitido com tal ênfase que os miúdos, reunidos em nome da terra e sua representação, quase só sabem abrir a boca para proclamar a "tradição" reduzindo o seu universo de pensamento e capacidades intelectuais a uma ideia fixa que, no seu imaginário, lhes foi implantada como aquela que é acima de tudo e, por conseguinte, é a mais valiosa, a única, o belo, o bem, enfim o irredutível absoluto.
E ao absoluto tudo que se lhe acrescente ou retire em nada o altera.

(continua)

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quinta-feira, junho 14, 2018

ALUNOS ANOS' 50 60 DO LICEU DE FARO

domingo, junho 10, 2018

LANÇAMENTO REVISTA 'LÓGOS' Nº 2

Como previsto e divulgado e, embora pouco frequentado foi agradavelmente particpado, realizou-se o lançamento do Nº2 da Revista Lógos de divulgação e crítica literária.
Catherine Dumas, Professora de Português na Universidade de Lion e tradutora de vários autores portugueses para francês fez, de acordo com a sua leitura atenta dos textos, uma resenha crítica interpretativa acerca do sentido e significado dos textos, poemas e entrevistas de cada autor.
Deu-se o caso de estar presente uma Professora de português que, tal como Catherine, estudou e se licenciou em Lion onde foram ambas alunas de alguns mesmos professores daquela Universidade. Esse facto proporcionou uma agradável troca de impressões literárias e escolares entre o que haviam aprendido no seu tempo como alunas e aquilo que foi a sua experiência posterior como professoras de literatura portuguesa, uma em França outra em Portugal.
Uma tarde bem passada que fez esquecer completamente o habitual ruído indefinido da rua e a gritaria histérica da televisão.

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quarta-feira, junho 06, 2018

APRESENTAÇÃO REVISTA LOGOS Nº 2

Lógos, Biblioteca do Tempo pretende ser uma Revista da escrita plural com abordagem a diferentes temáticas e formas de as enunciar.
Neste 2º número temos conto com Reinaldo Barros, entrevista com Dina Ferreira da Silva, António Silva OLiveira e Manuel da Silva Ramos, ensaio com Rui Dinis Monteiro, Paulo Nóbrega Serra, Renato Epifânio e Adriana Freire Nogueira, teatro com Ana Cristina Oliveira, poesia com Eduardo Bettencourt Pinto, Rute Castro, Eduarda Chiote, Rui Almeida, Gisela Gracias Ramos Rosa e Daniel Maia-Pinto Rodrigues, 
A Lógos contém, ainda, expressivas ilustrações da autoria de Carlos Reys.

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segunda-feira, junho 04, 2018

ANTIGOS ALUNOS LICEU DE FARO, 2018