quarta-feira, outubro 29, 2008

MARADONA, DONA, DONA, DONA.

Segundo o "El País" de hoje Maradona vai ser o próximo treinador de futebol da Argentina. Finalmente, o batoteiro-mor do futebol mundial foi conduzido ao Olimpo do imoral. Nos jogos Olímpicos como no ciclismo e cada vez em mais desportos, os batoteiros drogados são destituidos dos títulos ou proibidos de participar, contudo no futebol o caminho é o inverso: os viciados propositadamente para viciarem o jogo, são premiados. Por esta e por outras que cada vez mais o futebol é puro espectáculo submetido à pressão da rentabilidade financeira: isto é, ao puro jogo do negócio.
Maradona que usou e abusou de drogas para manter um alto rendimento desportivo, e continua passeando seu corpo deformado e fazendo gala disso pelo mundo, entrando e saindo continuamente de clínicas de desintoxicação, que autoridade moral pode ter face ao futebolista drogado? E que actitude poderá vir a tomar junto dos jogadores caso os resultados comecem a falhar? Tal nomeação parece indicar que não é Maradona mas o mundo do futebol que anda drogado.

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terça-feira, outubro 28, 2008

O ELITISMO DE LFM

Do discurso crítico nortista que Luis Filipe Meneses há anos lançou sobre os "sulistas e elitistas", sobra actualmente apenas a questão dos elitismo. No "Público" de Domingo 26, LFM diz que o país "tem muito do seu futuro condicionado por esse pequeno grupo que vive das mordomias do poder e que define quem tem ou não qualidades para ser líder". Segundo o jornal, esse pequeno grupo seria uma "pseudo-elite" na qual coloca de fora "Sócrates que não pertence a essa classe".
A questão colocada é altamente pertinente e, pese embora a diarreia verbal diária de LFM enquanto líder do PSD que o desacreditou, olhando o caso Sócrates sob a barragem de fogo cerrado que sobre ele fizeram as elites doutorais, académicas, opinativas e escrevinhadoras, há matéria de sobra que dá que pensar e perceber o juizo proferido. A forma, o estilo e o tom depreciativo dos ataques ao PM pelo seu modesto canudo de "Engenheiro Técnico" em contraponto aos seus luzentes coroados canudos de "Engenheiro", "Doutor" ou "Professor", denotava um indisfarçável elitismo académico que é cultural no nosso país.
Não é por acaso que, no antigamente, se falava reverencialmente dos "Professores de Coimbra", como "dos Professores da Faculdade de Direito", que ainda hoje se fala do "eixo político da linha" com os seus profes, políticos, candidatos, ministeriáveis, alta finança, tudo misturado. Também Cavaco Silva teve enorme dificuldade em vencer essa barreira cultural de provinciano, que tais doutores da linha e outras linhas lhe atravessavam no caminho. Só o poder e o exercício do poder, o tal que pode distribuir as mordomias, acabou por impor a aceitação por tais elites. E mais, repartidas as mordomias, de tais elites vieram rápidamente, não só a submissa aceitação plena como o apoio elogioso e até a apologia ditirâmbica.
Repare-se que em Portugal os artigos de opinião, são quase invariavelmente, assinados por baixo pelo quase infalível; "Professor Universitário", ou nos debates de TV à primeira oportunidade lá escapa a frasezinha; "eu que sou Professor Universitário ...", ou; "eu que dou aulas na Universidade...". Igualmente no Parlamento não há ninguém que seja apenas ele: tem, sob pena de ser elitistamente menorizado, de ser ele mais o seu titulozinho académico. Nem que para isso tenha de ir à pressa tirar o canudo certo à Universidade certa como fez o nosso PM. E afinal ele governa com a ciência teórica das sebentas do canudo ou com o uso equilibrado do bom senso alicerçado no conhecimento adquirido pelo exercício da leitura e da acção prática?
Contudo, mau, muito mau para o país era se os portugueses deixassem, acrítica e carneiramente, que uma qualquer elite, mesmo sábia que seja, pudesse condicionar de forma determinativa quem devem ser os nossos líderes.

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domingo, outubro 26, 2008

ENGANO MANIFESTO

BRINQUEDO DE CARRINHO DE BÉBÉ
1.- Já reparei que este ano a sede de Freguesia e os lugares mais remotos e escondidos dela estão sendo profusamente enfeitados com postaletes em arco para iluminação de Natal. Aqui nos Gorjões, o lugar fim-do-mundo do Concelho de Faro, meia dúzia de arcos já estão instalados cada qual contendo um céu de estrelas suspenso. Nos anos anteriores éramos contemplados com uma única, simples e modesta palmeira ou estrela, este ano somos servidos com uma "iluminação de Natal de rua de cidade". Este ano, a obscuridade a que somos votados anos, décadas e meios-séculos, vai a CMF, finalmente, eliminar com farta iluminação.
Se a intenção é tapar com um arraial de luzinhas, as faltas de bens civilizacionais de 1ª necessidade para com este pequeno povo, bem pode as gentes daqui aperceber-se disso e então apenas fará, tal céu de luzes, brilhar ainda mais intensamente na sua consciência social as carências e falhas municipais. Em vez de um céu de luzes suspenso sobre a estrada nós precisávamos e pretendiamos os canos de águas e esgotos sob a estrada, em vez de suspender sobre nós um céu miniatura como brinquedo de carrinho de bébé, precisávamos e pretendíamos que suspendessem a suspensão de trazer os canos, águas, esgotos, depósitos e bombas das respectivas redes, suspendessem a suspensão do arranjo do parque junto à Capela de Santa Catarina, suspendessem a suspensão de fazer uma manutenção séria e eficaz da EM 520.
Agradecemos a vossa acção iluminada mas o que queríamos é aquilo que nos prometem há muito e verdadeiramente temos necessidade, já merecíamos e temos direito como cidadãos contribuintes limpos.

IMITAÇÃO DO DR. AJJ
2.- Anda a circular por cá pedidos de assinaturas para requerer a discussão da Regionalização na AdaR. Trata-se do movimento para a regionalização encabeçado pelo infindável político Dr. Bota. Exactamente. Esse mesmo que anda há décadas perseguindo e vivendo de lugares políticos e que recentemente salientava-se no apoio ao formato "generalocracia-tablóide" do prepotente Dr. Alberto João Jardim.
Afadiga-se o Dr. Bota na tentativa de chegar à meta da Regionalização em 1º lugar. Ele acha-se competente para tudo e qualquer coisa e já sonhou com todos os lugares que a Democracia pode proporcionar a um político medíocre mas teimoso. E agora sonha ser o 1º presidente da região do Algarve, e barafusta teimosa e entusiasmadamente para conseguir tal objectivo.
Claro, como político fraco mas sabido, fá-lo em nome de uma boa solução para o Algarve mas escamoteando a sua vontade oculta: ser rei dos algarvios. Sim, pelo passado político aos zigue-zagues sem rasto, pelo apoio a Santana Lopes na mira de poder ser ministro, pelo recente apoio ao madeirense anti-cont'nente, é legítimo que pensemos que agora quer ser a imitação do Dr. AJJ no Algarve.

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quarta-feira, outubro 22, 2008

EXTREMIDADES

A presente crise financeiro-económica trouxe à ribalta, novamente, a eterna discussão do que prevalece (vale mais) sobre a vida corrente das pessoas e dos povos: espírito ou matéria, corpo ou alma, existência ou consciência, a terra ou o céu, a mão invisível do Mercado ou a manápula-pilão-gigante do Estado. Os gregos que inventaram ou racionalizaram os fundamentos de todo o conhecimento actual e também esta questão do físico e metafísico, eles próprios, discutindo racional e dialecticamente sobre a filosofia aplicada à sociedade, inventaram o governo da Cidade pelos cidadãos em oposição ao governo do rei-tirano. Estas concepções antagónicas de poder: o de um e o de todos que foram modelo para as cidades-estado gregas conduziram a uma guerra pela supremacia de um modelo sobre o outro que levou ambos à perda temporária da liberdade e total ruina. Contudo apenas o governo de todos, a democracia, como resultado do livre pensamento e opinião e correspondente discussão racional aberta dos assuntos da Cidade deixou marcas culturais inultrapassáveis. E sobretudo, deixou claro, para os vindouros, que o governo extremo de um só era bem pior que o governo dos cidadãos livres organizados.
Actualmente, liberto do extremo absolutista real, o homem insaciável de progresso e conhecimento (riqueza) e impossibilitado de se despir da ambição libertária de dominar a matéria e o trancendente continua lutando investindo da direcção do imaterial. Tornada a Democracia, sobretudo, uma sociedade mercantilista inventou o Mercado e uma "mão invizível" (transcendental) que o governa. Em oposição, na lógica dos opostos, logo alguém pensou no retorno a um materialismo absolutista temporário convicto de que a "mão bigorna" do Estado obrigaria a criar o homem novo que com a sua "justiça invisível" (transcendental) garantiria, sem qualquer constrangimento, a igualdade e liberdade rasas puras para sempre.
Também liberto deste extremo absoluto basista igualitário, sem perder de vista tal conceito, pendeu e inventou a maneira de proporcionar casas, carros, bens e prosperidade a todos através de operações financeiras imateriais (transcendentais). E saiu, mais uma vez, derrotado de tal ousada experiência que o transcende e por conseguinte se torna indominável. Agora, passado o regime oscilatório provocado pela "marrada invisível" do Mercado no muro intransponível do trancencendental, tudo vai regressar ao meio termo que o bom senso diz ser o termo certo. Contudo não levará muito tempo que se dedique a inventar e caminhar para novo extremo-beco impenetrável onde irá marrar de novo estrondosamente. E assim será sempre, em sistema de moto-contínuo histórico, pois que é da nossa condição a procura incessante de alcançar e tocar o que nos transcende. E assim é porque pressentimos que o transcendental está ali à mão, junto de nós, uma vez que sabemos que a exrema entre ser e não ser é a mesma. O que conseguimos, finalmente por fim e no fim, individualmente, quando o inextinguível e inexpugnável Tempo nos engole e torna todos igualzinhos trancendentalmente.

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sábado, outubro 18, 2008

MARAFAÇÕES LXVI

1. Bonny and Bonny à portuguesa
Há alguns dias li num jornal que dois assaltantes de carjacking foram apanhados em flagrante, fugiram e refugiaram-se numa moradia próxima. Os guardas cercaram a casa e caçaram-nos escondidos debaixo da cama. Com tal valentia é mais provável que apenas quizessem o carro para se protegerem de algum rato.

2. rtpn
Sob a direcção do Car. Daniel, o rei do futebolismo, a rtpn que era suposto ser uma estação de informação com notícias, comentários, opinião, discussão política, informação, transformou-se, por dissolução completa e instantânea no caldeirão do futebolismo, num permanente reflexo do pensamento elevado e impagável sobre faltas, golos, jogadas, tácticas e estratégias, losango, quadrado, ww, 433, 343, 442, 451, visão de jogo, leitura de jogo, trivela, trivela ao contrário, aberturas, espaço vazio, desmarcações, toque de bola, arranque, bola nos pés, fintas, velocidade, corredoes, lateralizar, recuar, carregar, pressionar, cobrir, faltas cirúrgicas, duras, maldosas, violentas, enfim toda a canhoaria linguística própria do "trio de ataque".
O pior é que mesmo quando o Car. está escorrendo a porra das notícias do país ou do mundo, ao seu estilo de relato futeboleiro, o nosso entendimento, inescapável ao reflexo condicionado, é tri-atacado pelos pensamentos, juizos e reflexões do mais fino e puro futebolismo .

3. Santana e o Magalhães
Pacheco Pereira perdeu a montanhosa azia que tinha pelo magalhães da e.escolinhas. Conseguiu passar a hora da quadratura sem maldizer o magalhães. Tinha de ser preciso coisa muito mais dolorosa ainda para PP deixar cair mais uma ou outra queixa sobre a perversidade e ilegítima paternidade do pequeno azulinho.
E o que foi que fez PP esquecer o azulinho? Precisamente Santana Lopes, o tal que "anda sempre por aí porque também ainda ninguém lhe arranjou um lugar para estar". Esta foi bem metida e a propósito, eu até acrescentaria "para estar descansado" da labuta do dia a dia, do fim do mês, e da falta de calor humano.
Mas o pior para PP é ele pensar que, dada a elevada literacia académica e esperteza política dos lisboetas, como já provaram elegendo-o uma vez, Santana pode voltar a ser presidente da CML para querer ser o marajá do palácio de Belém. Que porca ingratidão querida Manuela.

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quarta-feira, outubro 15, 2008

NOVOS VENCIDOS DA VIDA


A VELHARIA RABUJENTA

Ao ver Medina Carreira na SIC, mais uma vez, teorizar sobre a impossibilidade de Portugal com tais políticos e políticas actuais, não pude deixar de recordar e relacionar tal arenga com outras arengas velhas de outras velharias:
. Vasco Pulido Valente há muito que defende que, por tal caminho e com tais portugueses, Portugal não tem futuro.
. José Manuel Fernandes, editorial após editorial, mais obliquamente e com justificações manhosas, repete diáriamente VPV e recentemente admitiu que o melhor era fugir daqui e que alguém apagasse a luz, reconhecendo embora que não sabia para onde ir que fosse diferente ou melhor.
. Já há anos o patrão de JMF ameaçou mudar-se para o estrangeiro dado que, uma vez que não o deixavam negociar segundo a sua alta e livre vontade patriótica, entendeu que a sua grandeza não cabia na pequenez de Portugal.
. Medina Carreira é o mais teórico de todos, faz lembrar o célebre professor do Técnico que tentou demonstar teoricamente que o lançamento do Sputnik e colocação de um satélite artificial em órbita era uma mentira, dada a impossibilidade de tal, segundo a sua velha ciência académica.
. Após a consolidação continental de Portugal e depois da consolidação do império marítimo que, desde então, a crítica do "não futuro ou impossibilidade" de Portugal é uma constante de muitos pensadores que culminou na élite dos "vencidos da vida".

Contudo o que é constante nesta crítica é que ela é feita sempre por homens que passaram pelo poder efectivo ou poder intelectual de influência e nada alteraram do "moto contínuo" histórico, nada desviaram a rota imparável da evolução histórica no sentido do melhoramento da vida dos indivíduos e aperfeiçoamento da vida em sociedade. Grandes pensadores imaginaram utopias para a direita e utopias para a esquerda e todas foram trituradas pela marcha triunfal do Tempo inextinguível e inexorável. O que realmente se extingue rápidamente são tais pensadores de utopias que, pungentemente envelhecidos, desiludidos com o passado, rabujentos com o presente e já excluidos do futuro, se rebelam contra o novo e diferente, quais D. Quixotes, que já ninguém leva a sério e por quem todos sentem já uma inocente e piedosa santidade.


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quinta-feira, outubro 09, 2008

A VENDA DO ALFREDO

A ÚLTIMA VENDA
A asae atacou e a última "venda" dos Gorjões fechou as portas. A asae atacou a última "venda" de mercearias e taberna mas sobretudo atacou o sítio fechando o único local aberto ao público e prestador de um serviço social necessário ao povo deste pequeno lugarejo do barrocal à beira da serra. E atacou a honorabilidade do Alfredo, seu impoluto proprietário com oitenta e dois anos e desde os quinze a trabalhar no ramo com elevada estima e amizade de toda a população local.
Que sabem os asaes, polícias burocratas da lei, de história de um lugar perdido no campo e de um Homem que dedicou a vida inteira a ter à venda, todos os dias, o necessário indispensável para as mulheres fazerem a marmita do almoço diário do dia de trabalho dos homens. Que sabem os asaes, homens-robot do tempo sem alma, dos tempos antigos quando a única vida social e convívio das gentes locais era feita, aos domingos apenas, à volta duma mesa e uma rodada de copos cheios ou um baralho de cartas. Que sabem os asaes recém-nascidos sobre vender para "apontar" fornecendo um serviço de crédito baseado na confiança e integridade entre partes. Que sabem, afinal, os homúnculos asae, sobre bons e maus produtos ou sobre limpeza e higiéne comparados com o Alfredo que toda a vida comprou e vendeu sem uma única reclamação, briga ou inimizade com alguém.
A "venda" do Alfredo não exibia o brilho ofuscante novo-rico do inox, nem as paredes e chão forradas dos lustrosos azulejos que bastam e enganam os olhos. Não, na "venda" do Alfredo havia e sentia-se o asseio das mãos limpas cheias de nobreza humilde, metia-se na mesma bolsa batatas e pão com a mesma dignidade com que se distribuia bondade, honestidade e amizade a todos. Na "venda" do Alfredo todos tinham, à mão, um amigo há longo tempo, face à brutalidade asae vamos tê-lo no coração.

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quarta-feira, outubro 08, 2008

OUTONO NO QUINTAL

F L O R E S
AS ROSAS








AS FLORES DE VASOS










F R U T O S

AS LARANJAS



OS LIMÕES



AS ROMÃS



OS MEDRONHOS





No campo as estações, ainda se diferenciam não só pelo aspecto geral da côr da terra e arvoredo, mas ainda melhor se identificam pelo estado de cada árvore e maturação dos seus frutos. Nesta época as últimas rosas são mais pequenas e têm menor brilho, são menos exuberantes. As flores dos vasos e canteiros são aquelas mais do tipo silvestre, menos coloridas. Nos frutos as laranjas e limões estão amarelecendo o que significa quase amadurecimento. As romãs, após as primeiras chuvas já abriram e estão plenamente maduras. Os medronhos, já grados, vão do verde amarelado, passam pelo amarelo vivo e muitos já estão na côr avermelhado vivo que é a sua côr de maturaçao plena.
Para o ano, na mesma data, as mesmas plantas terão as mesmas flores com as mesmas côres e brilho, as mesmas árvores terão os mesmos frutos e flores que por sua vez terão a mesma coloração e maturação. A repetição sazonal deste ciclo em movimento perpétuo marca o nosso olhar e este a compreensão de cada tempo. No campo o estado de folhas, flores e frutos de uma árvore ainda define o tempo do ano.

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terça-feira, outubro 07, 2008

DINIS MACHADO




HOMENAGEM FÚNEBRE
Segunda-feira, dia 29 de Setembro, fez ontem oito dias, escrevi aqui um texto pela morte de Paul Newmann a partir de uma citação de Dinis Machado retirada do nº 7 da revista "Filme" de Outubro de 1959, sobre o filme "Vício de Matar" estreado nessa altura em Portugal. Muito longe andava meu pensamento de que passados oito dias iria escrever sobre a morte do próprio Dinis Machado.
Dinis Machado foi redactor e crítico de cinema nesta revista desde o 1º número.
Contudo o seu nome só ganhou projecção nacional entre o povo leitor com o original e invulgar " O QUE DIZ MOLERO", aparecido (salvo erro, digo de memória) em 1977 e que em Setembro desse ano já ia na 4ª edição, cuja capa reproduzimos aqui.
Foi uma tal surpreza a frescura inovadora e imaginativa daquele livro, que colocava a literatura em patamares elevados e novos, que quase de repente se transformou num acontecimento falado e elogiado por todo o meio literário do país. Pela minha parte, posso testemunhar (ver fotos ao lado) que o comprei na "Artys" em 30.12.77 e acabei de lê-lo em 31.12.77 ; quer dizer que peguei nele e só parei no fim da última página. Penso que o mesmo aconteceu com muita gente naquela altura. Só nos agarramos a um livro desta maneira se ele nos entusiama e arrebata completamente.

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sexta-feira, outubro 03, 2008

TOXIDADES


ASSALTOS E PRODUTOS TÓXICOS
Aqui, no campo, antigamente, uma mulher duma família rica paria um menino e uma mulher duma família pobre paria um moço, como o divulgou António Aleixo numa das suas belas quadras de crítica afiada aos costumes. Modernamente os eufemismos são mais que mato e o mais modernaço é aplicado ao roubo: se um gang pobre de bairro social sacar uns euros ao caixa de um banco de mão armada é um assalto; se um caixa de bairro de moradias saca milhares ao banco armado de truques é um desvio; se um gang milionário da 5ª avenida saca milhões armado de administração com o poder de administrar-se e falir o banco vendendo banha da cobra, diz-se que produziu e vendeu produtos tóxicos.
Não tarda nada veremos os gangs pobres responder aos juizes que são responsáveis e sérios agentes financeiros que, algumas vezes como no caso, ao agir financeiramente bem intencionados apenas utilizaram meios e produtos tóxicos por distracção.
O juiz responderá que são bandidos pulhas condenados pela lei escrita da sociedade. Entretanto os grandes assaltadores gozam luxuosamente os milhões sacados à massa ignorada de honestos confiantes nos bancos e tratados como tapados, cinzentos, e ignorantes.