quinta-feira, julho 29, 2010

O ELOGIO DE QUARTEIRA


Quarteira já não tem à beira mar chalés de praia
das famílias louletanas élites espanto da arráia
miúda. Mas tem democráticas "torres feias"
divididas ao mm2 para comportar marés cheias
de gente povo. Já não tem meninos sobre o areal
em grupinhos à parte filhos da classe doutoral.
Mas tem de molhe a molhe, canto a cantinho,
cobrindo a praia uma multidão de zé-povinho.
Já não tem esplanada para noites divertidas
de meninos bem noite fora. Mas tem avenidas
verdes longas largas ruas novas e calçadão
cobertas de gente de norte a sul e toda condição.

Já não tem a típica praia dos pescadores paleta
de barcos redes velas remos gente de pele greta
da salgadeira e esforço sobre as ondas a remos
movidos a força bruta de braço. Mas havemos
em troca a beleza redentora dum seguro porto
de pesca à prova de intempéries um mar morto
inofensivo para segurança de barcos a motor
bens homens uma paleta nova sem o folclore
coitadinho. Já não tem a natureza rural bucólica
dos quintais e hortas viçosas nem a eólica
vela sobre o mar não é mais a piscatória aldeia
adro da igreja matriz nem é mais uma ideia
canónica de culto estético definido ou preconceito
de laboratório elaborado desenhado pelo sujeito
bem pensante sobre o que é ou não é o belo
ou pelo artista iluminado criador de um modelo
conceptual de beleza sob formas académicas
sem discussão sem concessão sem polémicas
sobre se o povo também pode produzir arte
quando as suas peças desconexas parte a parte
inorgânicas criam forma de conjunto ilógico
nunca visto nunca estudado logo demagógico
ao olho do esteta estudioso de formas vistas
autor de mais do mesmo a retoques ilusionistas.

Quarteira já não tem a tipical beleza estatuto
de atraso social não é mais lugar pobre de luto
sob mar revolto não é mais beleza privilégio
de élites rurais senhores de quase domínio régio
sobre vistas de praia e mar. E tem colado aposto
o anátema carimbado pelos donos do bom gosto
que lhe decretaram a horrorosabilidade eterna
com a convicção irreal dos enganados na Caverna
de Platão os mesmos que acham máximo o pouco
que é tão só uma única cor sobre tela de Rothko.

Quarteira tem hoje uma repartida beleza plebeia
por todos quantos querem mergulhar na sua veia
com dispensa de rótulos estéticos de fealdades
infernais entrevistas e propaladas por sumidades
sob congeminações metafísicas de arte e beleza
ignorando a útil e bela arte criada pela Natureza
sob o signo da Necessidade. Quarteira felizmente
tem hoje uma beleza repartida para toda a gente
do Minho ao Guadiana vinda em familiares claques
tornando-a praia portuguesa de todos os sotaques
falados no país e aqui nas ruas esplanadas no areal
espalhada faz dela o micro-cosmos do ser nacional.

Praia de todos os remediados viril beleza de favela
rica como nesta dos terraços varanda ou janela
das torres e prédios de pedreiros sem assinatura
pode qualquer apreciar a beleza que é a mistura
de mar praia ruas praças casas povo que fervilha
alegre e feliz por sentir-se em casa uma maravilha
de arte nascida do caos tal como no infinito cosmos
do caos nasceram os astros para dar beleza a todos.

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terça-feira, julho 20, 2010

MARAFAÇÕES LXXIX


JORNAIS E NINHOS DE ANDORINHA, A MESMA CACA
Os jornais são, hoje em dia, cada vez mais parecidos com os ninhos de andorinha em minha casa. E os jornalistas desses jornais cada vez mais fazem para dar razão sobre o entendimento que a minha mulher tem hoje sobre ninhos de andorinhas nos beirais da casa. Os jornais, os jornalistas dão notícias, informam, comunicam a actualidade que em princípio é uma coisa boa, mas se distorcem as notícias, a informação e comunicação segundo pré-determinações fixas, então o que resta é subproduto de esgoto.
Os jornais e jornalistas deles cada vez mais se comprazem em dar sempre o lado mau da notícia: se não há lado mau deturpam ou omitem. Os títulos, legendas, notas, caixas, são retirados do corpo da notícia para realçar e interpretar, por manipulação, o assunto como mais uma malfeitoria do governo, quando muitas vezes não contradizem a própria notícia. Salta à vista que a estratégia é mesmo essa de fazer o povo, cultural e politicamente analfabeto, interiorizar a ideia de um governo malfeitor. Para tal gente, empregados domésticos mui "independentes" de igualmente mui "independentes" grandes patrões de media, só vale falar do governo como sujidade e merda, mesmo que isso seja o estrume de uma futura seara fértil.
A posição da minha mulher a respeito dos ninhos de andorinha cá em casa, é parecida. Elas fazem a Primavera na rua da casa, fazem ninhos laboriosamente com mestria, criam os filhos com desvelo, dão alegria ao ambiente e mantêm a espécie: isto é, são mães e pais bons e diligentes, são obreiras incansáveis, são mestras competentes, são determinadas e sábias pois nunca desistem de cumprir e fazer o que a sua biológica tarefa lhes destinou.
Contudo, cá em casa o magnífico e requintado trabalho da andorinha não é benquisto. Só é referido, apontado e rejeitado a sujidade, a porcaria, as cagadelas em voo sobre o terraço e o pópó, o monte de excrementos dos filhos até se soltaren do ninho, a multiplicação de ninhos de ano para ano e por conseguinte de nova e maior porcaria.
A minha mulher, com a sua determinação em não aceitar a merda das andorinhas conseguiu, à força de desfazer os ninhos nos locais habituais, obrigá-las a ir fazer os ninhos no beiral dum velho armazem próximo onde estão a salvo, em total àvontade e liberdade para fazer merda sem incomodar. Começo a pensar que faz sentido o entendimento dela e que, igualmente, consumir e levar jornais para casa corresponde a caca e lixo intelectual mais perigoso que caca de pássaro. E a pensar que melhor é deixá-los nas bancas para serem devolvidos à procedência remetendo a merda e mau cheiro a quem os expeliu.

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sábado, julho 17, 2010

UMA HISTÓRIA BORDEIRENSE


CRISTO, SALAZARISMO E O JOGO DE CARTAS

Um homem chamado Cristo, amigo de Baco e de jogar às cartas por copos, estava numa velha taberna iludindo o típico isolamento social do seu meio rural, local de encontro de amigos para desabafar sobre a dureza dos trabalhos de sol a sol nas pedreiras, nas trincheiras das estradas, no varejo e apanha dos frutos secos, na labuta de tratar dos campos sem horário, nas misérias da vida do povo pobre.
Estava no seu saudável convívio habitual pós-jantar jogando às cartas com os seus vizinhos e amigos de infância, quando entrou intempestivamente a GNR para apanhar os jogadores de cartas em flagrante. É que o salazarismo até a reunião de amigos numa taberna rural para conviver jogando às cartas e beber um copo para esquecer as mágoas das agruras diárias, tinha proibido com punição de multa e cadeia. E vigiava pela acção e sobretudo pelo medo, realizando raids à bruta como demonstrações de força para aterrorizar pobres desgraçados.
À ruidosa chegada e violenta entrada da GNR os jogadores de cartas puseram-se em fuga pela porta estreita das trazeiras que dava para o campo arborizado, por onde desapareceram. Só o pé-pesado e poeta popular Cristo, certamente com muitas taças emborcadas por várias rodadas de homílias jogadas, não fugiu ou, fazendo juz à sua omnipresença poética, deixou-se ficar para enfrentar os caras de ferro ameaçadoras dos GNR.
Discutiu com o cabo GNR acerca de que mal praticara para ser multado ou ser preso. Dialogou, argumentou e desenvolveu toda uma teodiceia popular em defesa da bondade do jogo de cartas como distracção e a taberna como único meio de convívio social e transmissão de conhecimentos de trabalho de ofício pela troca de ideias, do bem e bondade que constituia para ele estar com os amigos à mesa para uma inocente e alegre cavaqueira à volta das cartas e umas rodadas de copos. Disse que aqueles momentos de relaxe passados junto dos amigos a conversar, jogar e beber uns copos, eram o recarregar de energia, insuflar ânimo na alma e recuperar a força física para enfrentar os duros trabalhos do dia seguinte sem revolta. Até invocou em sua defesa de, como artífice das pedras e poeta popular, sentir uma necessidade intelectual de ouvir os amigos e interrogar-se a sí próprio sobre o sentido da vida: precisava daquele convívio como causa de inspiração poética para as suas quadras populares, nunca escritas.
Nada feito, nada demoveu a rígida autoridade a bem da nação dos GNR educada e formatada sob a égide da lei e da ordem salazarista. Nem sequer aqueles grandalhões fardados de cotim e correias, armados como se fossem para a guerra e broncos intelectualmente, tinham entendimento capaz para compreender as subtilezas mentais de Cristo, pensador poeta popular. Os guardas, recrutados no mundo dos soldados semi-analfabetos dos quarteis de cavalaria e depois escolarizados exclusivamente para agentes aplicadores da lei pela força e brutalidade, não só não entenderam a doutrina de Cristo em defesa do bem, e não do mal, que representava aquele inocente convívio interrompido sob o terror do império da autoridade, como tomaram a teodiceia argumentativa de Cristo como se este os quisese tomar por parvos.
Então, irritados puxaram do crachat de autoridade intocável e logo ameaçaram e intimidaram com prisão e multas que passaram ali mesmo. Mal os guardas abalaram os amigos voltaram a reunir-se no interior da taberna e foi nessa altura que todos acordaram pagar em conjunto as multas do taberneiro e do Cristo. E também nesse momento Cristo desabafou a sua indignada resignação com uma amarga e bela ironia inconformista, assim;

Cristo com a sua devoção
E o seu alto poder
Se Ele não teve salvação
Como é que a gente podia ter.

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quinta-feira, julho 15, 2010

PENSAMENTO POPULAR


Ontem, num almoço de amigos um deles contou-me que um amigo seu já velhote, quando lhe questionava a veracidade do que dizia, respondia assim:

Jovem, tenho uma idade que já poucos me podem desmentir.

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domingo, julho 11, 2010

FINAL MUNDIAL FUTEBOL 2010

Está quase prestes a iniciar-se a final do mundial de futebol. É-me indiferente qual a equipa ganhadora por motivos de preconceito de lugar, país, clubístico ou interesse futeboleiro.
Contudo, por amor à maneira como gosto do desporto, feito de entrega ao jogo jogado sempre para vencer pela superioridade do jogo aberto praticado em campo e tendo sempre em mente primeiro que tudo, derrotar o adversário impondo-se sem subterfúgios ou tácticas manhosas, gostaria que a Holanda fosse capaz de impor o seu jogo prático de ataque a toda a largura do campo.
Caso contrário, e ao contrário da opinião fabricada e cantada em loas nos media, será uma perda para o futebol tal como o conhecemos desde sempre, para se tornar um futebolzinho de salão ou de praia, uma espécie de andebol jogado com os pés. Ou seja um grupo pré-mecanizado para fazer um carrossel com bola à volta da área do adversário até que este deixe meter um golo por erro ou cansaço mental: normalmente um golo de empurrão, recarga, insistência, confusão ou penalti.
Faço votos que se imponha o futebol, o velho e bom futebol, aquele que procurava e metia golos nas balizas dos dois lados e no fim ganhava quem marcava mais golos. Que ressuscite este futebol sem equivocos de tácticas menores de "crochet" feito com bola castradoras do gozo do jogo.

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segunda-feira, julho 05, 2010

A ÚLTIMA FINTA DE RONALDO


FORA DE JOGO
Mais uma finta inacreditável de Ronaldo. E desta vez sem bola nem no relvado ou palco de anúncio publicitário, mas de qualquer modo no campo da conceptividade puramente técnica, quase mágica.
Ronaldo revela ao planeta que teve um filho num site da Net. Depois de fazer gala de mostrar ao mundo ser capaz de conquistar e ter qualquer mulher que desejasse, de repente engravidou um site e teve um filho pela Net.

Sendo também um mágico de fintas de alcova só podia ter um filho concebido por uma finta de criatividade mágica: concepção por meio desconhecido e parido num site.

Os deuses-pagãos antigos, criados pela necessidade de explicar a existência tinham filhos pela cabeça ou barriga da perna, os deuses-ícones modernos criados pela necessidade de alimentar os media têm filhos pela Net. Aqueles conceberam as mais incríveis metamorfoses corporais para serem deuses mitológicos racionais, estes concebem simulacros de metamorfoses imateriais para serem símbolos mitológicos irracionais.
Ronaldo não precisa explicar nada, nem sequer porquê, dormindo com tanta mulher boa parideira e à cata de obter um chorudo pecúlio para o resto da vida, nenhuma reclamou uma gravidez e de repente diz-se pai de um filho da Net.
Será que Ronaldo jogador, que cada vez mais se finta a sí próprio dentro do campo, agora nos quer fintar como árbitro pondo-nos todos fora de jogo?

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quinta-feira, julho 01, 2010

SCTUT E DISCRIMINAÇÃO POSITIVA

Também sou de opinião que se se tem de pagar que paguem todos os que utilizem as Scut. E ainda não entendi porque teimosia o PS não aproveita a boleia do PSD e usa esse critério e resolve o problema sem andar a lançar problemazinhos filhos e problemazinhos netos sobre a questão.
Também eu e todos os farenses do campo de Gorjões pagamos IMI tal qual os farenses da cidade e outros impostos tal qual todos os portugueses sem qualquer critério de discriminação positiva.
Contudo aqui, nós;


1. não temos rede de água canalizada, nem distribuida, nem fontanário, nem camião-depósito de bombeiros em tempo de seca, nem comparticipação na abertura de furos nem na compra particular de água, mais de 200% mais cara que na cidade.

2. não temos rede de saneamento básico nem comparticipação na construção, obrigatória, de fossas cépticas.

3. não temos comparticipação para tratamento de águas dos furos que as ditas fossas cépticas poluem inquinando-as.

4. temos a estrada de acesso mais esburacada e degradada do Concelho e a melhor amiga das oficinas de reparações de carros e mudanças de jantes e pneus.

5. não temos, nem com binóculos, o rendimento colectivo próximo do exigido para critério de pagamento nas Scut.

E, Senhor Presidente Macário Correia, também não temos alternativas.

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