sábado, dezembro 31, 2011

2012, Ó TEMPO VOLTA P'RA TRÁS, DÁ-ME TUDO O QUE PERDI


Vai terminar 2011, o infeliz ano da minha já longa vida que vivo para assistir ao impensável de ver o governo eleito do meu país ter como desígnio de futuro o empobrecimento forçado do seu próprio povo.
Vamos entrar em 2012 com um pm e governo que mentem com o mesmo àvontade e sem cerimónia como quem veste a pele de pessoas sérias, e tão rascas de intelecto e ideias que só lhes dá nos bestuntos tomar medidas para despromover e empobrecer o povo, armados em gang de carteiristas que assaltam todos portugueses pobres e remedeados.
Vamos entrar em 2012, com um governo incapaz e incompetente, que por tal demérito, apenas sabe tomar as medidas fáceis: destruir o que existe e não exigem pensamento ou massa cinzenta mas sim massa bruta de malhos, machados e marretas.
Vamos entrar em 2012 com um governo que vende as jóias que ainda possui e tem a desfaçatez de apresentar tal miséria e vergomha como se se tratasse de um sucesso glorioso, manipulando a nossa desgraça trágico-pedinte em farsa bufa.
Vamos entrar em 2012 com aumentos brutais de todos os serviços e bens de consumo a disparar e todos os rendimentos e serviços prestados a descer brutalmente. E os nossos governantes com um sorriso triunfante de gozo na cara.
Vamos entrar em 2012, mesmo em cima do fecho, com uma lei que trás um novo e violento ataque às classe pobres e médias obrigando-as a desfazer-se de suas velhas habitações onde nasceram e se fizeram gente, atirando os mais pobres para a rua ou casebres e libertando espaços de futuras casas para ricos.
Vamos entrar em 2012, mesmo em cima do fecho de 2011, destruindo-arrasando todos Centros de Formação das Novas Oportunidades, as tais escolas que o pm chamou de centros para aquisição de ignorância.
Assim, o ano de 2011 acaba em beleza e 2012 entra em apoteose sob a batuta da incomensurável patética sabedoria dos nossos governantes: o povo vai deixar de frequentar escolas para ser ignorante e espera-se que passe a ser sábio, a ignorância fica restrita ao circulo dos governantes.

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sábado, dezembro 24, 2011

GORJÕES E SUA GENTE

JOSÉ DE SOUSA MALAQUIAS

José de Sousa Malaquias, o Tí Malaquias, foi homem das vinte e tal partidas e outros tantos filhos espalhados por meio Portugal .
Contava ele que começou de garoto analfabeto a trabalhar com os empreiteiros de estradas cá da terra. O trabalho nas estradas levou-o para muitos lugares do Algarve e Alentejos com paragens longas em diferentes e estranhas aldeias de muita gente, seu semelhante de humilde condição humana.
Tí Malaquias era vivo como pardal, esperto como raposa e saudável como o sol, tal como se atirava ao trabalho duro de de sol a sol, aproveitava todos momentos de conversa ou convivência com a gente local para pesquisar companhia afim de se libertar da solidão e prestar louvores e honras ao amor. E, metido na sua própria personagem humilde, sem disfarces como Zeus fazia, com artes ancestrais de masculinidade atiradiça, sempre conseguia amparo para a cozinha, cama e roupa lavada.
Com muita genética intrínseca para tentar mulher, com os anos apurou a arte e por onde passou deixou a marca maior de prova de homem: descendência de seu sangue.

Já entrado e aleijado de uma perna por acidente devido à bruteza do trabalho, regressou a casa do pai que vivia com uma mulher ainda jovem. Quando o pai faleceu tomou conta da madrasta do mesmo jeito, vivacidade e alegria com que cuidara das várias companheiras que tivera. E, igualmente, deixou marca de carne viva com alma de Malaquias dentro: filhos gente, que eram irmãos de seus irmãos.

Já velhote, arruinado das pernas e do alcool, só e sem saber dos inúmeros filhos de pai incógnito que pusera no mundo vivos, incluindo os feitos e criados aqui, veio viver para o Alto usando como sua casa uma velha furgoneta abandonada. Já sem capacidade de virilidade para conquistar o amor humano, dedicou-se a uma cabra que o seguia para todo o lado, incluindo a taberna, e era, juntamente com a garrafinha de decilitro de aguardente de medronho, sua companhia de dia e noite.

Sem um queixume ou lamentação, sem uma imprecação aos homens ou ao céu, sem conhecer médico e remédios, tendo a cabra ao lado como agasalho e único bem, uma noite luminosa de bondade o cobriu de sombra e carinhosamente o levou suave e docemente, porque alma tão leve e livre não aceitava desligar-se de tal corpo tão cheio de natureza.

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quarta-feira, dezembro 14, 2011

AOS COMBATENTES DE SANTA BÁRBARA DE NEXE, MINHA TERRA

Como pedido pelo Sérgio, Secretário da Junta de Freguesia, afim de figurar inscrito, no todo ou em parte, num pequeno Memorial de homenagem aos Combatentes de Santa Bárbara de Nexe na Guerra Colonial.


Poema para memória de Combatentes da Freguesia

Frente ao perigo de vida ou morte o momento - prova
d’Homem - acontece.
Corpo e alma disputam coragens, despem o que parece,
são heróis nus à espreita, ela do céu ele da cova.
Nada lhes vale bradar aos céus, lamento, súplica prece,
gritar imprecações, sob metralha nada há que comova.

Deixámos a bela juventude, paz e arte de nossos ofícios,
alegria na Aldeia, doces amizades.
Ignoravamos se o império era tirania ou liberdades,
exigiram-nos sangue e sacrifícios.
Submetidos obrigados não discutimos justeza e maldades
da guerra, puros sem ideais, honrámos nobres princípios.

Dignos são de memória e honrosa nomeação inscrita
na pedra, mensagem ao vindouro nexense,
testemunho de filhos valorosos que houveram, pertence
comum de nosso chão amado, terra ínclita.
Tributo merece todo combatente que vencido vence
guerra e tempo, por cumprir acima do que o dever dita.


José Neves
Furriel Miliciano, Angola 1961-1963
Gorjões, 15.02.2011

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