sábado, novembro 29, 2014

SÓCRATES



As cadeias não se fizeram para os ratos e os grandes homens, ou melhor, os Homens invulgares muito acima da vulgaridade e mediocridade reinante são invariavelmente rejeitados por, precisamente, constituírem uma anormalidade ainda desconhecida da normalidade dominante no tempo.
A grande massa do povo que vive agarrada á superfície dos trabalhos dos dias jamais pode perceber, no mesmo tempo, uma figura que fala, pensa e actua de forma diferente, com uma verdade complexa e incomum, com base em valores e éticas ainda não perceptíveis ao comum mortal.
Não compreende a grande massa do povo e as elites medíocres são broncos que também não estão à altura de compreender, e por tal se sentem ameaçadas nos seus postos de pequenos reis. E, evidentemente, reagem para extirpar do corpo da sociedade aqueles que anunciam novos valores e visões tomados como uma possível contaminação perigosa.
Sócrates é um desses tais Homens que vieram ao mundo prematuramente. E, precisamente por isso não nos devemos entristecer, perder ou desistir porque Sócrates sairá sempre vitorioso desta contenda entre o novo e o velho, entre o futuro e o passado.
Nenhum cavaco, vidal, alexandre ou rosário ficarão vencedores pese embora vençam este round.
Pela carta enviada há dias e agora com o telefonema para o expresso vê-se, claramente, que Sócrates não teme absolutamente nada do que lhe possa acontecer e sabe, certamente sabe, que a emboscada que lhe montaram não é para jogar a brincar e, inevitavelmente, dado que face à sua própria contestação taco a taco, não terão recuo e tornar-se-á inevitável calá-lo na cadeia.
A cadeia também se fez, quase sempre, para os Homens Grandes que não são ratos ou ratazanas com figura humana. Estes ficarão eternamente assinalados como ratazanas de sargeta enquanto Sócrates restará, mais tarde ou mais cedo, um Homem Histórico desta actualidade portuguesa.
Não é preciso chorar Sócrates, nem ele quer nem ele precisa.
 

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quarta-feira, novembro 26, 2014

MESQUINHEZ, VINGANÇA E A HISTÓRIA



Desde que há democracia que há casos judiciais para derrubar políticos. Começou com o Péricles, ou antes.”
                                                                                                   
                                                                                                          Valupi                


Com base nesta afirmação nasceu-me a ideia de quão grande é o espírito mesquinho e vingativo dos medíocres perante os Grandes Homens.
Realmente, os grande amigos Péricles e Fídias, há cerca de 2500 anos, foram acusados de corrupção durante a construção do Pártenon, nomeadamente, na aquisição do ouro para a grandiosa estátua da deusa Atena.
Quer a estátua ( que depois foi desfeita para obter dinheiro para alimentar a guerra), quer o Pártenon (que serviu de paiol aos turcos e quase o eliminou) são consideradas há séculos como obras-primas património da humanidade. E os seus autores Péricles e Fídias, são reconhecidos universalmente como dos maiores e melhores políticos e escultores que já existiram na História Universal.
Provavelmente todos os dias, no mundo, alguém está falando ou escrevendo algo sobre estas duas figuras ímpares.
E pergunto: alguém conhece os acusadores?
De seguida a este caso, também em Atenas, outro Sócrates era acusado e condenado à cicuta que aceitou beber por amor da Lei.
E pergunto: quantos conhecem os acusadores?
A mesquinhez vingativa tem horror à verdade, ao belo e à grandeza do saber e conhecimento e a História tem horror e vergonha dos mesquinhos.

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domingo, novembro 23, 2014

JOGO DO BICHO NOS GORJÕES

O jogo do bicho tal como é jogado é o mais tradicional dos Gorjões e único na região. Trata-se de um jogo praticado com duas pequenas malhas de pedra (primitivamente) ou de metal (patacos, vintém ou ferro) que são atiradas a um bicho com moedas em cima: uma de cada jogador. O jogador atira a malha, pelo ar, a derrubar o bicho e ganha as moedas quando a sua malha fica mais próxima delas que o bicho. Quando as moedas ficam mais próximas do bicho elas continuam sendo do bicho e o jogo continua. Uma vez ganhas todas as moedas os jogadores voltam a por uma moeda cada, de valor pré-estabelecido, e dá-se inicio a nova jogada.
Este tradicional jogo local, que antigamente era jogado num terreiro, em 1983 ainda se jogava aqui nos Gorjões.

    

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quarta-feira, novembro 12, 2014

CRCG, COBERTURA 1ª PEDRA

sábado, novembro 01, 2014

UTOPIA E "DESVIOS"



Todo sistema político teórico conceptualmente pensado e teorizado para racionalizar e fundamentar uma ideia pré-concebida, tratado, arrumado e apresentado sociológica-filosoficamente como sistema político-social perfeito para atingir o bem e a felicidade futura dos povos, pode ser um bom tratado sociológico, um bom ensaio filosófico, uma bela peça literária, uma maravilhosa descrição de uma idílica utopia mas, politicamente, é sempre uma fraude.
Porque a aplicação prática de uma qualquer utopia precisa, necessariamente, da intermediação dos humanos na sua aplicação, seu controle, manipulação, manutenção e adaptação. E essa intermediação, necessariamente imperfeita à semelhança da condição humana, inquina desde logo toda teoria social de pretensão para-científica, como são todas utopias.
Contudo, o pior e mais perverso mal resulta da implantação da utopia que, sendo um extremismo social relativamente aos costumes, viver, pensar, tradição familiar, laços de sangue, à ética e ordem anteriores adquiridos ao longo de séculos, obriga à inevitável necessidade de usar de violência física e social, sobre o povo submetido.
Este apenas quer e pede que o deixem viver segundo o estádio actual de sua consciência político-social e o poder exige, à força, que todos indivíduos do povo passem a viver uma experiência de ruptura total, inédita e inaceitável, que viola e violenta brutalmente as suas vivências e consciências.
Às violências e males inumanos que são obrigados, necessariamente, aplicar ao povo a cada estádio de implantação do extremismo utópico, uns chamam-lhe violência revolucionária outros erros de avaliação na aplicação prática da teoria. Esta é perfeita e infalível e, por conseguinte, se algo não corre como previsto são explicados como erros das chefias, que não aplicaram bem a teoria, ou do povo que não respeitou as directrizes superiores e, consequentemente, a sua correção exige novas violências, e assim sucessivamente, até à revolta ou indiferença e apodrecimento moral e social da comunidade.

Não é por acaso que, actualmente, os historiadores do pensamento politico-filosófico e suas aplicações práticas começam as suas observações sobre tais pensadores da seguinte forma:
Demócrito tal como Protágoras acreditavam que a participação na vida política do Estado fomentava a cooperação frutífera e ajudava a legitimar o Estado aos olhos dos seus membros.
Platão considerava que os seres humanos estão equipados com diferentes capacidades naturais e afirmava que a divisão do trabalho era um princípio geral de organização social.
Aristóteles defendia que em Estados com uma mistura de classes, a forma de governo mais apropriada e aceitável de modo a facilitar a prossecução da boa vida, era a Constituição Política.
Santo Agostinho sublinhava a natureza pecadora da humanidade,  contudo, dizia que uma vez que os cristãos tinham necessariamente de passar o tempo de que dispunham no mundo, a cidade terrena representava um benefício limitado e transitório.
Aquino via o governo como uma consequência necessária da sociabilidade.
Bodin, Grócio e Hobbes identificavam a necessidade de uma ordem criada e mantida por uma única pessoa.
Carlyle presumia que a consciência da necessidade de orientação asseguraria o desejo de conformação a uma ordem hierárquica estruturada.
Maurras insistia em que a desigualdade e dependência eram característica inevitáveis da condição humana.
Mussolini e Gentile concebiam o Estado como uma "democracia organizada, centralizada e autoritária" cujo objectivo era integrar a população num sistema de ordem mais "colectivista e espiritual" do que "materialista e individualista".
Hitler delarava que o nacional-socialismo via o Estado como um meio de atingir um fim que era a "preservação da existência racial do homem".
E assim sucessivamente com Rousseau, Kant, Locke, Green e todos iluministas.
Anarquistas e marxistas, apesar de sua rivalidade feroz, tinham um ponto de vista semelhante da relação entre política e ordem.
Marx e Engels acreditavam que tinham estabelecido uma base científica para compreender simultaneamente o capitalismo e o processo revolucionário que o iria destruir.

Em breve os historiadores actuais do pensamento político estarão inscrevendo nos seus manuais que; Hayek pensava que o mercado funcionava como mecanismo de descoberta e inovação para milhões de indivíduos que utilizam o melhor dos seus conhecimentos para perseguir os seus próprios propósitos.
Pensava que a forma e qualidades da vida comum em sociedade podia ser uma igualdade perfeita à soma da forma e qualidades dos indivíduos de per si. E como, inevitavelmente, mais uma vez a teoria falhou, brevemente, será o mais recente a constar referido nos manuais dos pensadores no pretérito passado, ou seja, mais um que pensava e teorizava que era mas não foi.

A mais ilustrativa, mais clara e flagrante prova do fracasso da possibilidade de imposição de utopias ao mundo real dos homens está, precisamente, no argumento dos partidos comunistas pró-soviéticos ainda resistentes que, na continuação de sua crença e renovada fé, continuam afirmando que a teoria estava e está certa, irrepreensível e imutável, apenas e só houveram pequenos "desvios" praticados pelos homens na sua aplicação. E, curiosa e incrivelmente, pequenos desvios deitaram o sistema-monstro abaixo.
O eufemismo "desvios" serve para esconder as perversões e bestialidades praticadas sobre as populações não como males e sofrimentos inerentes ao fenómeno da aplicação utópica mas sim como apenas simples erros de má avaliação e aplicação da teoria e, para mais, ditos, feitos de boa-fé.
Acreditamos que filósofos, sábios génios, não podiam querer mal aos seus povos e concidadãos e que, por conseguinte, seus estudos e pensamentos tinham em mente o bem desses povos. Contudo, a história prática da evolução das sociedades humanas demonstra que, quanto mais elevado se pensa e se quer tocar o infalível, o imóvel, a perfeição, o absoluto, com mais força somos atirados para a realidade e caímos no regaço da terra mãe. E de novo voltamos a pensar como perceber e realizar o sonho.

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