domingo, junho 23, 2019

PROCESSO JUDICIAL DE JESUS NAZARENO (TOMO II) SEGUNDO VALÉRIO BEXIGA

Valério Bexiga, no seu múnus de advogado de pão incerto e muitas incertezas acerca das certezas lavradas pela justiça ao longo dos tempos com escrita continua, neste "Tomo II, Envolvente Sócio-Jurídica Judaica", o seu trabalho ciclópico de desvendar com pormenorizada fundamentação o julgamento de um homem pregador-profeta de nome Jesus que após tal julgamento e condenação à morte os seus discípulos transformaram no ente sobrenatural dito Messias-Cristo-Deus o qual ainda hoje é aceite universalmente.
O autor vasculha, qual rato de biblioteca, todas as fontes existentes quer históricas quer religiosas para refazer a "Reforma de Autos" ou reconstituição das peças de um processo perdido. 
E começa logo na "Introdução" assinalando que no início da grande expansão territorial do império romano com Pompeu aportaram a Roma imensos deuses de todos os cantos desse império imenso. Montesquieu em "Causa da Grandeza e Decadência dos Romanos" diz que por razões de ordem política de governabilidade do império "foi a própria Roma que se submeteu às divindades estrangeiras e as recebeu no seu seio. E através desse laço, o mais forte que existe entre os homens, ligou a si povos que a olharam mais como o santuário da religião do que como a senhora do mundo".
Ainda, Edward Gibbon descrevendo o mesmo tempo em Roma no seu livro "Declínio e Queda do Império Romano" salienta que "Um incessante caudal de estrangeiros e habitantes das províncias afluiu ao espaçoso recinto de Roma. No meio de uma confluência tão variada de nações, todos os mestres, quer da verdade quer da falsidade, todos os fundadores, quer de uma associação virtuosa quer de um bando criminoso, podiam facilmente multiplicar o número dos seus discípulos ou cúmplices".
As citações acima, apesar da autoridade dos seus autores, não são elas que confirmam o nosso autor mas ao contrário, é o nosso autor presente que confirma os do passado porquanto é Valério Bexiga que nesta original obra, toda ela dedicada a este assunto, analisa e escalpeliza metodicamente segundo os mais exigentes critérios todos os documentos históricos e religiosos coetâneos assim como a maioria de respeitados autores críticos que pensaram e escreveram sobre este processo não escrito nem sentença lavrada numa época tão conturbada em Roma como foi aquela das guerras civis pela disputa do poder césarial.
No Tomo I, o autor dedica-se a escalpelizar a veracidade dos textos através de critérios e análises comparativas afim de detectar emendas, alterações, introduções, omissões e adequações deliberadas para evitar contradições evidentes na narrativa bíblica. No fundo procurou o autor testar a veracidade dos textos, quer históricos quer religiosos de modo a que possamos ajuizar e aceitar ou não, racionalmente, o texto bíblico.
Contudo, e apesar de tantos arranjos, os textos continuam enxameados de contradições e efabulações absurdas que obrigou a Igreja a informar os crentes de que o "texto não diz o que ostensivamente está a dizer mas outra coisa" ou seja que devemos ler a bíblia de forma alegórica segundo Frederico Lourenço em "O Livro Aberto: Leituras da Bíblia.  
Neste TOMO II o autor debruça-se primeiramente acerca dos Conceitos e Instituições Judaicas onde analisa, descreve e comenta os temas da Profecia, Apocalipse e Escatologia a partir dos Profetas Isaías, Daniel, Izequiel e dos testemunhos históricos de Flávio Josefo. Continua depois pela apresentação e comentário acerca dos conceitos de Messianismo, Messias e suas Características como o Messias Guerreiro ou Davidíceo, o Messias Sofredor e Humilde, o Messias Militar e por fim o Messias do Novo Testamento com toda a carga de atributos, poderes sobrenaturais e Obras de Feitos Maravilhosos.
E conclui em três notas:
A - O Messias seria, sobretudo, o encarregado divino de anunciar a implantação do Reino de Deus na Terra o qual traria a Boa-Nova aos pobres.
B - Por força da sua qualidade de Judeu, os actos e ditos de Jesus que envolveram o anúncio de alterações revolucionárias do quadro sócio-institucional existente, form-no a mandado e em nome do "Pai", sendo-lhe estranhos todos os factos que, como Judeu, não pudesse praticar dentro do quadro legal Judaico.
C - O Reino de Deus que, na esteira do Baptista, anunciava, independentemente do eventual pacifismo que exibia, implicava uma gigantesca transformação sócio-política, que passava pela salvação dos pobres arrependidos e pelo aniquilamento dos outros.      
Frederico Lourenço no seu livro já citado, "O Livro Aberto: Leituras da Bíblia" pergunta; Quem é o Deus da Bíblia? E refere "a ilação antipática de que Deus nunca se conseguiu afeiçoar por igual a todos os descendentes da criatura humana por ele criada" e cita as palavras do Salmista (salmo 110:6) que dizem: "o Senhor amontoará cadáveres e esmagará cabeças pela vastidão da Terra" e segundo (Oseias 14:1) são esventradas as mulheres grávidas da Samaria, porque o seu povo "se revoltou contra o seu Deus".
Ainda referido neste livro é a "chacina dos filhos e escravos de Job, que não pecou contra o Senhor, que não tem outra causa além da "arbitrariedade infundada".  
O Tomo II retoma a seguir a questão da original missão atribuída a Jesus e conclui que o reconhecimento geral acerca de Jesus, mesmo dentro dos seus discípulos, excepto S. Pedro, era de Profecta e não de Messias. Segue-se o Envolvimento Histórico do Movimento de Jesus no contexto dos Estatutos das Províncias Romanas e da Natureza da Tutela Palestiniana seguida da história da Monarquia de Herodes e seus descendentes sob a tutela do imperador como Província Romana.
Por fim e durante 150 páginas o autor debruça-se minuciosamente sobre o Enquadramento Sócio-Institucional, a Organização Judiciária e sobretudo acerca do Grande Sinédrio de Jerusalém, suas Competências, Estrutura e Composição, o Processo Penal Judeu e o Sinédrio como Tribunal. E por fim resume os dados acerca das Ponderações dos Argumentos Favoráveis à Pena de Crugificação e dos Argumentos Contrários à Pena de Crucificação.
Concluindo finalmente, citando Flávio Josefo e Filo de Alexandria, um como a principal fonte histórica da Palestina e o outro como testemunha privilegiada de jurista judeu e contemporâneo de Jesus,  que:  
Constitui tarefa inglória sustentar que a morte na cruz era pena prevista e aplicada na sociedade judaica da época de Jesus.
João Bénard da Costa numa sua crónica titulada "As Sete Palavras do Senhor" (Meu Deus, Meu Deus, porque Me abandonaste?) no "Público" de 18 Abril 2003, cita uma frase de Romano Guardini, que diz, sempre o impressionou e reteve sem saber bem porquê desde que a leu, e reza assim:
"O Cristo na Cruz! Ninguém conseguirá jamais perceber este mistério!".  

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domingo, junho 16, 2019

VELHAS MOTORIZADAS NOS GORJÕES

quinta-feira, junho 06, 2019

CHAROLA DOS GORJÕES 2001 COM MARIA DA GLÓRIA 2 Canto Janeiras,Ensaio 29 ...

Na "Tradição" charoleira da Freguesia de Santa Bárbara de Nexe conhecida desde há quase um Século neste ano de 2001 a Charola dos Gorjões foi inovadora.
Pela primeira vez uma mulher tomava parte em um Grupo de Charolas de homens e mulheres como "Começador"; aquele que começa o cante de improviso dedicado aos presentes na assistência e à crítica social de costumes e acontecimentos locais.
A partir daquele dia a palavra "começador" também passou a dizer-se e falar-se no feminino.
E não foi por acaso pois a Maria da Glória desde menina-moço aqui no campo e depois estudante rebelde em Faro e na Universidade sempre reagiu "travessa" a todos os tabus que diminuíssem a mulher face ao homem. 
Nesse tempo de menina-moça-rapaz aqui no campo ninguém falava ou sequer sabia o que era o feminismo e nem a Maria da Glória entendia o sentido de tal ideia; ela era e representava tão só a sua natureza profunda, genética.
No fundo foi uma defensora de sentido prático "feminista" mas tão pessoal e pleno de natureza tal como uma mãe leoa defende as suas crias