sábado, setembro 21, 2019

QUARTEIRA A TRÊS TEMPOS

Quarteira que era uma aldeia sem idade 
que tinha pescadores e casas rasteiras
com quintais e noras, hortas e sementeiras
sobre a terra e sobre o mar que sem piedade
nem juízos de valor de moral ou verdade,
indiferente, com suas manápulas guerreiras
de águas alterosas que lançavam de arremesso   
sobre ligeiros e artesanais barquinhos levados
a remos onde bravos de rostos salgados
eram engolidos pelo brutal excesso
de irados mares sabotadores do regresso
dos bravos a seus lares e deixados imolados
no altar sustento da vida e esta vira do avesso
quem ia pescar ao mar e são pelo mar pescados.

Quarteita que era aldeia hoje é uma cidade
que tem pescadores, porto de pesca e lota
que tem barcos e traineiras, uma frota
motorizada veloz equipada de última idade
digital que detecta cardumes e quantidade  
que cavalga o mar como se fora numa mota
d'água e pesca peixe fino para turista,
que trocou "challets" por torres d'apartamentos
que trocou por festa o que eram lamentos
de viúvas e preces-procissões de sacrista,
que trocou casa para arrendamentos
do pescador ao serrenho por vasta lista
de hotéis em fila que vende diárias com vista
de serra e mar ao estranho de rendimentos.

Quarteira que foi primeiro cidade de chacota
nacional do parido menino-fino (poeta Aleixo)
crítico feroz da arquitetura d'Abril, um desleixo
inqualificável, um arranjismo, uma batota
de pedreiros construtores cujo fito e desfecho
foi plantar casas a eito sem plano rumo ou rota.
O tempo que tudo muda, até as mentalidades,
veio armado de novas arquiteturas e modernice
abriu novas e largas avenidas que se visse,
embelezou património histórico e com criatividade
plantou à beira-mar um calçadão quase uma planície 
que mudou o rosto imagem e ser de sua realidade.

E hoje Quarteira é lugar do povo comum que a invade
de falas do mundo e sotaques de Portugal inteiro.
O lugar puro inicial que já fora do serrenho e montanheiro. 

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quinta-feira, setembro 12, 2019

PEC IV; A PESTE UMA DÉCADA DEPOIS


PEC IV
A espúria aliança da esquerda revolucionária com a direita reaccionária no caso do PEC IV foi uma reprise, em pequena escala, do pacto germano-soviético na 2ª Grande Guerra; uma aliança contra- natura para derrubar um poder e dividir o espólio entre ambos do poder derrubado.
Mas, dada a sua natureza contra-natura, embora tudo tenha corrido conformemente ao pacto no início, as verdadeiras intenções de cada parte não foram escritas e a desconfiança mútua estava em alerta permanente de ambos os lados.  
O pacto servira para um dos lados poder fazer outros saques prévios e tornar-se mais forte e quando chgegou o momento oportuno atacou forte e feio o amigo pactuante; o pacto não evitou o posterior ataque alemão tal como por cá o poder da direita pura e dura reforçado pela aliança contra-natura arremessou sobre o país um impiedoso terramoto passista aplicado como castigo e catarse dos hereges portugueses calaceiros que viviam "à custa" e acima das possibilidades.
Do trotskista Louçã não era de esperar diferente de maquiavelismo oportunista e calculista tímbre dos políticos medíocres mas outra coisa esperar-se-ia do batido e sabido cunhalista Jerónimo que desta vez não teve a visão de Cunhal quando, num golpe de rins impensável, à última hora mandara votar Soares contra Amaral.
A lição foi tão forte e memorável que lembraram-se dela ainda no rescaldo das últimas eleições legislativas face a Costa e originou a já universal célebre geringonça.
Contudo, o pecado original dessa maléfica aliança foi um acto que deixou marcas indeléveis e irreversíveis para todos os intervenientes.
Logo, para os principais instigadores e promotores do golpe lesa-povo; Cavaco, Passos e Durão e mais uns quantos figurões menores que incentivaram a golpada como o nosso Marco António e no conjunto e por tabela todo o PSD são, hoje em dia, gente detestada e até desprezível pelos portugueses.
Depois para o PS que não soube ou não foi capaz de desmontar e apontar os autênticos autores golpistas salteadores do pote no momento certo e deixou correr a versão dos culpados o que obrigou Costa a refugiar-se no ” à justiça o que é da justiça” sem ter em conta o grave problema que é o anátema político que deixa em herança ao partido.
E, do mesmo modo, os partidos revolucionários PCP e Bloco que ainda não entenderam a grandeza e profundidade da gigantesca bancarrota total que foi a decadência e apodrecimento de morte natural do “socialismo real”. Incompreensão e cegueira que os leva a actitudes como essa de levantarem o braço ao lado dos reaccionários contra o país na miserável visão da ideia política de que obteriam ganhos nas urnas e os deixou encurralados e obrigados de continuarem ao lado da direita imitando-a e citando-a na versão falsa por esta montada e narrada. 

E, de tal modo, que ainda recentemente levou a Catarina a soltar a desprezível ideia de que Sócrates beneficiara do “apagão” do Núncio CDS juntando-se aos crápulas acusadores sem provas na praça pública nem julgamento.
Todos, políticos e não políticos mas, especialmente, os partidos do poder carregam essa cruz do PEC IV perante o desfilar diário do calvário da vida política portuguesa. Uns por serem promotores e participantes activos na golpada outros por consentirem que a golpada se consumasse como farsa.
E seja qual for o desfecho de Estado do caso Sócrates isso já em nada alterará o caso PEC IV em si mesmo como remédio e cura da má consciência colectiva que tal caso semeou e disseminou como uma peste.

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